Célia Sacramento, na longa história iniciada em 1549, até hoje foi a única, uniquinha, mulher negra em posição de mando, como vice-alcaide eleita (2013-2016) da cidade de São Salvador da Bahia de Todos os Santos.

Ano passado, corajosamente, agregou sua expertise à nossa pretensão de assumir o poder na Reitoria da UFBA, mandando os “brancos” malditos embora, em campanha de oposição negra.

Célia tem invejáveis currículo e biografia. Experiências acadêmica – doutora em Ciências Contábeis e professora na UFBA – e política. Ao lado de Eduardo Jorge, do Partido Verde, concorreu à Presidência da República em 2014.

Foi esta mulher que exalou vivacidade e positividade ao projeto de renovação oposicionista denominado “UFBA inclusiva e diversa, em defesa da ciência e da vida“.

Oxigenou o debate ao ingressar na disputa, restando apenas quinze dias para a assentada do Colégio Eleitoral, a 1º de junho de 2022.

Em obediência à legislação que há 20 anos vinha sendo burlada (leia), o Colégio Eleitoral foi composto por 91 delegados: dirigentes de unidades, pró-reitores, membros de colegiados de pós, representantes sindicais e estudantis. E presidido pelo dissimulado cabo eleitoral do continuísmo, o então reitor há 8 anos, ao qual o movimento estudantil prestava vassalagem chamando-o de “papi soberano”.

Nas duas semanas que restavam de campanha, Célia e este candidato fizeram duas transmissões por canais do Youtube e Instagram. Assista!

Procuraram insistentemente, por e-mail, marcar reuniões com aqueles dirigentes e delegados das unidades. Alguns poucos atenderam ao apelo e agendaram com a dupla encontros virtuais para debater o projeto oposicionista.

Facom, unidade na qual o autor dessas mal traçadas é docente há 21 anos, fez ouvidos moucos, tendo aberto a porteira para o proselitismo do candidato da situação, à época vice-reitor. Sintomático: o debate na Faculdade de Comunicação somente é “democrático” para um dos lados, evitando o contraditório.

  • SEM ILUSÕES DO PROCESSO

Desde o anúncio público (assista vídeo abaixo), no final de 2019, da pretensão de entrar na disputa para a Reitoria, este escrevinhador, um não neófito em disputas pelo poder, sabia dos óbices que se interporiam para uma concorrência limpa, transparente, equitativa, com as forças de mando instaladas na UFBA há décadas e desde sempre.

Já em Nova York em dezembro de 2021, como pesquisador sênior da Columbia University, retomou conversações virtuais com pessoas de dentro e de fora da universidade visando viabilizar um campo de oposição.

Reuniões quinzenais foram planejadas, objetivando a construção de um projeto diferenciado de gestão da UFBA. Docentes, técnicos, pesquisadores, estudantes e apoiadores de partes do Brasil, e até de Portugal, somaram-se à ideia até o momento decisivo.

Com um dos seus interlocutores, membro da diretoria da Assufba (sindicato dos técnicos administrativos), correia de transmissão do PCdoB, reunimo-nos longamente em chamada de vídeo na última semana de janeiro de 2022, ele falando de sua casa no Nordeste de Amaralina.

Ocasião em que este candidato solicitou-lhe, parceiro de várias jornadas na UFBA, que buscasse agendar uma reunião com o comando sindical e sua líder, a deputada federal Alice Portugal, com o objetivo de discutir a candidatura.

Ante a prerrogativa exclusiva que a legislação (Lei 9.192/95 e Decreto-Lei 1.916/96) dá ao Presidente da República de escolher qualquer um, independentemente da colocação, dos três nomes indicados pelo Colégio Eleitoral para reitor, o dirigente sindical informou:

As forças alinhadas ao campo político-partidário, ideológico, atuantes nas campanhas às Reitorias de universidades do país, teriam montado uma estratégia para evitar riscos de Jair Bolsonaro nomear dissidentes de fora daquele campo.

Tratava-se de apresentar ao Colégio Eleitoral não apenas um nome, mas vários do mesmo espectro político. Inviabilizando, ou neutralizando, a oposição legítima.

De fevereiro até a manhã da reunião dos 91 membros do Colégio Eleitoral da UFBA, a situação instalada no gabinete do reitor manietando os sindicatos de professores, de técnicos e o Diretório Estudantil, vendeu para os públicos interno e externo ter como candidato somente um nome, que chamaram de “Chapa 1”, composto pelo vice-reitor e pelo Pró-Reitor de Graduação.

Pairava na cabeça dos senhores de mando a possibilidade, mesmo mínima, de este candidato, crítico a seus desmandos absolutistas, desarranjar a politicagem de sempre. Entraram em campo com uma campanha de mentiras, de ódio, de difamação, de ataques vis a este opositor.

Tudo é revelador do medo, do temor da cúpula de o nome desse candidato obter o número mínimo de votos necessários para compor a lista tríplice. O situacionismo tinha tudo a perder, até o sono. Este escrevinhador, nada – senão o amor e a generosidade dos que lhe confiaram a fibra.

Os interesses da chapa branca, aí há décadas, poderiam ser contrariados. Perder o controle do voto, que desejavam permanecesse sob seu cabresto, nem pensar…

Confirmando a estratégia pré-anunciada, no momento decisivo para a formação da lista tríplice, dois outros nomes de peso foram juntados pelo Gabinete, sem nunca antes terem se apresentado.

Assim, não somente o vice-reitor, mas também o Pró-Reitor de Orçamento e Planejamento, e o ex-Pró-Reitor de Pesquisa de Pós-Graduação e de controle de verbas públicas para projetos financiados pela Capes, alinharam-se como candidatos.

Os dois últimos, como candidatos “laranjas” não se enrubesceram quando discursaram aos membros do Colégio Eleitoral, afirmando-se candidatos que estavam ali declarando voto ao candidato já cacifado pelo Gabinete. Confessavam tratar-se tudo de engodo, de uma manobra.

No abrir das urnas, o resultado somente referendava o que já se sabia: a lista tríplice estava blindada com seus três nomes.