Minha residência há 10 anos fica no Corredor da Vitória. Havia uma escola pública de qualidade, modelo, que o então governador Rui Costa, ministro da Casa Civil de Lula, mandou fechar e vendeu a área a grupos privados. Há teatros, clubs, cinema e museus.
Ao passar final de tarde dessas pela porta de um dos museus, dirigindo minha caranga, de relance vi o atual reitor da UFBA, Paulo Miguez (atente-se ao sobrenome galício), possivelmente saindo de algum evento governamental.
O sujeito, todo enfatiolado, estava ao celular. O carro oficial, com motorista da universidade, encostava ao meio fio para pegar Vossa Magnificência. Uma cria do Partidão, da conversa-mole de Antonio Gramsci, marxista italiano de muita influência entre os cínicos “revolucionários” autoritários que pululam na chamada “Academia”.
Paulo Miguez é uma invenção dos conchavos de partidos políticos que no Brasil autointitulam-se “esquerda”. Farsantes, se vistos de perto com lupa.
É hoje, sem qualificação de mérito (compare-se os currículos Lattes), reitor de uma das mais importantes universidades federais brasileiras. Importante não por critérios acurados de produção científica relevante, posto que em índices internacionais sua posição é depois de 1.100º, entre as universidades públicas atrás até mesmo de outras de estados nordestinos mais pobres.
Sem gastar cérebro ou bunda, onde estão os músculos necessários para a aquisição de conhecimento científico adestrado, o sujeito tem a “sorte” de ser branco e se chamar Miguez. É “comunista” mas o que conhece de realidade do povão equivale ao que Anitta e este escrevinhador conhecem de física quântica de plasmas.
Há exato um ano neste maio ele, cacifado pelo Gabinete do Reitor, por todo o status quo dos mandantes e por ladrões da bolsa pública como Mário Kertèsz, ex-prefeito de Salvador, o “Roberval Taylor” na planilha do departamento de propinas da empreiteira Odebrecht, saía a campo em aberta vassalagem nas faculdades, institutos e demais unidades da UFBA.
Somos docentes no mesmo programa de pós-graduação, com a diferença que desde cedo o cara foi catapultado a posições de dirigente. Razão que levou o colegiado a lançar “nota pública” em apoio à sua eleição, sem mencionar este autor. Preferências seletivas…
Ele não mora no Corredor da Vitória, artéria de menos de 800 metros que é uma cumieira – entre o mar da Baía de Todos os Santos e um vale -, morada dos ingleses representantes da rainha Vitória nos tempos coloniais e do império. A especulação imobiliária tornou um dos bairros mais cobiçados de toda a Salvador. Seu ídolo-mor, Jacques Wagner, hoje senador da República, a quem saltitante beija na face, sim aí tem residência de não sei quantos milhões!
Bem como, entre outros e outras, Gilberto Gil e Flora Gil, Ivete Sangalo, Bell Marques da banda Chiclete com Banana, Antônio Carlos Magalhães Júnior, dono da Rede Bahia, conglomerado de empresas de comunicação e outros negócios.
Mas sei que mora confortavelmente bem, como todo bom “socialista” burguês, obrigado.
Pagamos caro – não apenas no sentido financeiro – para proporcionar à família padrão de vida que, como oriundos de favelas distintas, minha cara-metade e eu não tivemos antes.
É pau-viola, confesso. Há centenas de invejosos à espreita, vez que – posso afirmar – somos a única família de tal perfil nesse quarteirão da cidade.
Como foi pau-viola enfentrar Miguez e sua turma barra-pesada na disputa pela indicação na lista tríplice para reitor ano passado, 2022. De Nova York, estando em terceiro pós-doc a convite da Columbia University, senti a porrada.

Miguez, seus padrinhos e chefetes espalharam fake news, mentiras a respeito da fraude perpetrada há 20 anos por sindicatos e DCE em suposta “consulta”, ou “eleição” para indicação de sua “chapa” (outra mentira). Ele como candidato a reitor e Penildo Silva Filho como vice. Tudo foi desmascarado a partir de atos oficiados pelo autor dessas maltraçadas em instâncias superiores.
Penildo, parceiro de outras paragens antigas, jamais agredeceu-me pessoalmente por solicitação que me fez para acolher em grupo de pesquisa e, por conseguinte, orientá-la no ingresso ao mestrado, uma de suas antigas amiguinhas. Filho de antigo professor de mesmo nome na UFBA, é piada à parte. Aquela sua “amiguinha” ingressou na pós, por dois anos foi minha orientanda. Quando cobrei rigor na pesquisa, de noite pro dia tornei-me seu desafeto.
Ela trocou de orientador por esse fato e, passo seguinte, pelas costas passou a espalhar calúnias a respeito desse seu bem-feitor, inclusive com altercações ofensivas em abordagem à mãe de minha filha recém-nascida, mestranda em outro programa de pós.
Isso agora não vem ao caso. O presente artigo – o terceiro da série sobre a disputa à Reitoria da UFBA em 2022 – é sobre como tornar-se reitor (e vice) sem produção intelectual relevante, sem inserção orgânica na comunidade circundante, sem compromisso em alterar a qualidade dos procedimentos pedagógicos e administrativos calcificados há mais de 75 anos na UFBA.
Basta ser branco. Como a maioria dos brancos ser amorfo. A brancura na Bahia é símbolo de distinção de superioridade, inclusive para negros de mente cativa – latem muito mas não mordem. Não sendo necessariamente branco, basta ser um cachorrinho fiel, um soldadinho das facções PT-PCB-PCdoB-PSOL-PSTU e por aí vai.
Penildo Silva Filho (próximo reitor) e Paulo Miguez (próximo membro de Tribunal de Contas, como a mulher de Rui Costa), por cientificamente medíocres, sabem que a receita é essa.
Enquanto isso a negrada letrada, identitária, aliada mental dessa gente, satisfaz-se com o minimo denominador comum. Mutila seus iguais e é mutilada a troco de migalhas que caem lá de cima, da mesa dos abençoados!
Se o assunto é disputar a Reitoria, perguntar não ofende. Será que na universidade pública brasileira não existem forças políticas distintas capazes de, aglutinadas, destronar o reinado, aquilo que Gramsci chama de “hegemonia”, dessa curriola? A ver se vai rolar sangue de pretos.
(No artigo seguinte, último da série, a entrada da professora Célia Sacramento na disputa e os apoios recebidos na campanha).
Penildo Silva Filho (próximo reitor) e Paulo Miguez (próximo membro de Tribunal de Contas, como a mulher de Rui Costa), por cientificamente medíocres, sabem que a receita é essa?
Isto está cada vez mais divertido, Fernando! Nós, os pobrezinhos aqui embaixo, adoramos quando um membro conceituado da elite acadêmica nacional resolve jogar merda no ventilador e denunciar as falcatruas das gangues universitárias e as mazelas das nulidades pós-graduadas. Aproveite enquanto as facções “PT-PCB-PCdoB-PSOL-PSTU” não aprovam em Brasília o PL da Censura e calam de vez as vozes do dissenso.
Abraço,
Mauro
PS: Mas, afinal, vale a pena sacrificar-se e pagar mais caro só para morar no meio da brancalhada chique soteropolitana? Por que acusar de farsante quem no Brasil se autointitula de esquerda: onde e quando já houve uma esquerda “verdadeira” no mundo? E que tal dedicar os próximos 30 anos à escrita de romances memoráveis, já que reitorias, aparentemente, estão ao alcance de qualquer zé-mané lambe-botas como os taizinhos citados e dos quais ninguém fora desta ensolarada província onde você vive alguma vez ouviu falar?!?
Bom… O seu texto é um registro importante da experiência da desigualdade de condições para acesso ao cargo de reitor da UFBA. Seria interessante explorar mais a questão racial entre os afrobrasileiros da UFBA.
Prezado Fernando, parabéns pela “língua ferina”, mas ainda branda diante das mazelas que denuncía. A composição atual do Parlamento, as duas casas, sugere que se possa contar com aliados para um PL que conceba um novo marco regulatório para o ensino superior no Brasil. Neste novo marco definir-se-iam questões como mérito acadêmico, autonomia, financiamento, escolha de dirigentes, liberdade de pesquisa, responsabilidade de agências de fomento e relacionamento com a sociedade civil, inclusive empresas. Estou rascunhando, escrevendo um draft, e me ocorre dentro de alguns meses, após os momentos iniciais de grande inquietação com CPMI, CPIs e outros temas, provocar, supra partidariamente, alguns deputados e senadores que se sensibilizem com os problemas das nossas universidades para uma análise do documento. Seria muito bom contar com coautorias para esse projeto de Projeto de Lei.
Discordo do escrevinhador. Ser branco não é tão importante assim no Brasil. Branco, verde, vermelho, azul etc., tanto faz!
O problema mesmo é ser visto, reconhecido, identificado como preto. Nesse caso, o sujeito é obrigado a arcar com todo o ônus do histórico preconceito racial que marca a construção da sociedade brasileira.