Não tem chororô, não tem mimimi. A decisão, legítima, segue as regras das leis vigentes.
Os membros do Conselho Superior da Universidade Federal da Bahia (Consuni) e do Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão (Consepe), em votação na tarde de 1º/06 para definir a lista tríplice de nomes para Reitor, período 2022-2026, deixaram claro: a dissidência com o status quo não é admitida. Agora e talvez nunca. O desafiante receberá por troco a humilhação, democraticamente expressa em números.
A lista tríplice a ser encaminhada à escolha do Presidente da República foi composta tão-somente por gente do Palacete localizado em área central de Salvador.
O atual vice-reitor Paulo César Miguez de Oliveira colheu 54 votos, o atual pró-reitor de Planejamento e Orçamento Eduardo Luiz Andrade Mota,17, e o até recentemente pró-reitor de Pós-graduação e Pesquisa, atual coordenador do comitê gestor na UFBA dos recursos federais do programa Capes-Print, Olival Freire Jr., obteve 16 votos.
A ousadia da dissidência numa Bahia que jacta-se de ser a “Meca negra” dos trópicos, ainda mais se partir de candidatura negra qualificada que reivindica autonomia e independência ante grupos de mando – como apresentada por este escrevinhador – mereceu dos detentores do poder de decisão coletiva nenhum voto. Zero.
O resultado pode ser lido como fruto de consenso historicamente construído durante esses 75 anos de existência da UFBA. A manutenção da “paz” de sua branquitude não admitirá jamais rupturas bruscas de gente que venha da ralé, que deve ser domada, domesticada, mantida em seu “devido lugar” social. Pode até fazer biquinho “na diagonal”. Sambar, rebolar, pedir licença e abrir os dentes é seu ofício.
Na verdade, esse resultado ocorre na sequência de uma série de embates travados entre este candidato de oposição, de um lado, e do outro o atual Gabinete da Reitoria auxiliado por ativistas sindicais, estudantis, de partidos e facções políticas, ditos “defensores da universidade”.
Há 20 anos os membros do Consuni e do Consepe se submetiam ao comando dos sindicatos Apub (de professores), Assufba (de técnicos) e Diretório Central dos Estudantes na formação da lista tríplice. Isso foi por terra na reunião do Colégio Eleitoral ocorrida neste 1º/06, transmitida ao vivo pelo canal do Youtube TV UFBA.

Este candidato, a partir de petições oficiadas ao reitor, ao Ministério Público Federal, à Controladoria Geral da União e ao Ministério da Educação, sagrou-se vitorioso em demonstrar cabalmente a ilegalidade, o estelionato do processo de escolha que levou à nomeação de todos os reitores desde 2002.
A oposição assim agindo arrancou do Consuni a Resolução nº 02/2022, tomando à sua responsabilidade o total controle do processo de formação da lista tríplice. Com calendário, regras de inscrições de candidatos (uninominais, separadamente a reitor(a) e vice). Reafirmando o que este candidato defende: a “consulta” sindical/DCE é ilegítima e não poderia ser vinculada ao Colégio Eleitoral.
Tudo já estaria combinado entre os sindicatos/DCE e o atual gabinete visando entronizar como sucessor automático de João Carlos Salles Pires o seu pupilo Paulo Miguez, enxertando depois na lista tríplice dois nomes “laranjas” tirados da cartola do reitor como em vezes anteriores.
Para dar aparência de ser a escolha “democrática”, o acerto passava pela aceitação de uma “consulta paritária à comunidade” docente, de servidores técnicos e estudantes, comandada e regrada pelas corporações, correias de transmissão de partidos políticos de pensamento único.
Coisa que apoiadores de proposta alternativa ao status quo questionaram desde o princípio, por descabida e invasora da autonomia universitária prevista na Constituição Federal e em leis ordinárias.
Apesar de o vice-reitor e o atual pró-reitor de ensino de Graduação participarem e estimularem o esbulho, a divulgação do resultado da consulta ilegal de “chapa” única na qual apenas os dois inscreveram-se – não mais que 15% das 61.000 pessoas da comunidade votou – desmascarou os farsantes.
Os números não foram fiscalizados ou auditados. O que significou o enterro das pretensões de que a “consulta” fora da lei fosse considerada pelo Colégio Eleitoral, como em assentadas deste colégio em 2018, 2014, 2010, 2006 e 2002.
- MAIS DO MESMO
Em reuniões periódicas desde fevereiro, um grupo de pessoas de dentro e de fora da UFBA foi aos poucos construindo um projeto que denominou-se “UFBA inclusiva e diversa, em defesa da ciência e da vida!”
Depois da Resolução 2/2022 do Consuni, um dos pontos analisados pela oposição é a estratégia que vem sendo utilizada pelas facções que controlam as reitorias das Instituições Federais de Ensino Superior país afora.
Em caso de disputa regulamentada, como enfim agora se viu na UFBA, aquelas facções tem utilizado a seguinte tática: inscrever o maior número possível de candidatos ao cargo de reitor(a), já em posições chave da administração. Portanto com aderência nos membros do Consuni e do Consepe.
Com isso, reduz-se a quase zero a possibilidade de entrada na lista tríplice de outsiders, de candidatos fora de suas correntes político-partidárias – como adiantou em janeiro a este candidato um diretor sindical com assento no círculo decisório.
Citou, como exemplo, a sucessão para a reitoria da Universidade Federal de Goiás, na qual a escolha do Presidente da República recaiu não sobre o primeiro mas sobre a terceira colocada na lista, contrariando a vontade do colégio eleitoral daquela instituição. Ocorre que a nomeada pertence ao mesmo comando dos dois primeiros, filiada ao PT.
Quando a Reitoria da UFBA divulgou na manhã da reunião do Colégio Eleitoral os nomes do atual vice-reitor junto com dois outros de sua cúpula administrativa, a estratégia confirmou-se. Assim como a colocação deles na lista tríplice. Seja quem for o nomeado por Jair Bolsonaro, não tratar-se-á, como veio espalhando a propaganda das facções, de ” golpe e intervenção bolsonarista”.
A professora Salete Maria Silva, também candidata de oposição que construiu junto o projeto alternativo aos mandatários, recebeu 2 votos à Reitora. Ana Kátia Alves dos Santos, presente entre os disputantes do cargo no dia 1º/06, outros 2.
Concorrendo a Vice-Reitora com o mesmo projeto “UFBA inclusiva e diversa”, a professora Célia Sacramento obteve 3 votos. O atual pró-reitor de Graduação os mesmos que Paulo Miguez. Os caras podem ser o que você quiser mas uma coisa é certa: sabem fazer conta. E controlar o cabresto no gado.
É uma pena professor isso acontecer nas universidades federais do Brasil, eles fazem de tudo para dominar o controle das universidades. E digo mais é quase impossível tirar o poder das mãos dessas pessoas porque a própria lei favorece a eles.