– Meu amigo, a justiça portanto talvez não seja uma coisa muito séria, se é útil somente quando se faz uso das coisas.
É o que assevera Sócrates, alterego de Platão em A República, Livro I: VIII.

Desde junho de 2015, quando a Operação Lava Jato pegou talvez a maior estrela do capitalismo tupiniquim, Marcelo Odebrecht, presidente da multinacional empreiteira Odebrecht, ficou claro que Luís Inácio Lula da Silva entrou em desespero.
Como uma Cassandra, predisse isto aqui neste blog há quatro anos e três meses, a 21/06/2015. O preclaro leitor pode conferir clicando no link.
A máquina do Partido dos Trabalhadores, em sociedade com demais partidos aliados e outros devotos, como deus Apolo cerrou fileiras para desacreditar todo o trabalho realizado pela força tarefa investigatória.
Em maio deste 2019 um site de notícias financiado por um bilionário desde os Estados Unidos da América, The Intercept Brasil, reforçou a campanha contra os agentes públicos à frente da Lava Jato.
The Intercept vem paulatinamente divulgando, dia sim outro também, troca de mensagens privadas entre a parte denunciante na Operação Lava Jato, o Ministério Público Federal, e o juiz sorteado para presidir o processo, Sérgio Moro.
Ressalte-se: esses agentes não cometeram crime. Não desviaram para seus bolsos milhões do dinheiro dos brasileiros, como fizeram os condenados pela Lava Jato.
Passados quatro meses desde que a troca de mensagens vem a público, o máximo que a defesa dos criminosos alega é que o juiz agiu com parcialidade para por na cadeia ícones como Luiz Inácio Lula da Silva.
Qual a tese, a partir do roubo das mensagens do aplicativo Telegram, daqueles que defendem os corruptos investigados, presos e condenados pelo juiz?
Que Moro agiu ao arrepio das regras da magistratura. Por isso, é suspeito.
Essa, a interpretação romantizada de The Intercept e defensores dos criminosos que assaltaram a Petrobras.
A interpretação da lei feita pelo juiz, nesse caso, não conta. O cotidiano do funcionamento da máquina judiciária brasileira tampouco é considerado.

Toda a Lava Jato, dizem The Intercept e a ampla corrente de defensores de Lula, é uma farsa. Suas decisões necessariamente têm de ser anuladas pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
No enfrentamento ao crime organizado que um dia usou o Palácio do Planalto por sede, a força tarefa composta por agentes públicos na Polícia Federal, Ministério Público, Receita Federal e o Judiciário teria de manter a candura. De Pollyanna?
De repente uma legião de raposas se diz apta a tomar conta do galinheiro. Doutas raposas, paladinas do legalismo mais escorreito, mais estrito das normas constitucionais.
Tadinhas das galinhas. Neste caso o populacho mergulhado em carências de toda natureza. Em razão de que o dinheiro que deveria atender direitos básicos de segurança, de saúde, de educação, de emprego de qualidade, foi desviado para contas secretas em paraísos fiscais, malas, cuecas, triplex, sítios.
Pouco importa se as mensagens divulgadas com estardalhaço pelo consórcio de The Intercept foram obtidas ilegal e criminosamente.
A partir da invasão, feita por um grupo de hackers já envolvidos em crimes outros, de contas particulares do aplicativo russo Telegram pertencentes àquelas autoridades empenhadas no combate às quadrilhas do crime organizado.
O jogo é bruto e deve custar algum dinheiro à parte que banca essa jogada de alto nível, qual seja, anular os procedimentos, investigações, apurações, oitivas e condenações de poderosos senhores empreendidas pela Lava Jato.
Gente que foi alcançada pela devassa, e outras tantas ameaçadas gentes do alto escalão dos poderes econômicos, da elite da Câmara dos Deputados, do Senado e do Supremo Tribunal Federal, parecem empenhadas em pacto sinistro.
O chefe do poder Executivo, o arrogante patriarca Jair Bolsonaro, contribui a seu estilo para alvejar Sérgio Moro.
Parece que o núcleo duro do bolsonarismo enxerga Moro como empecilho. À operação abafa para impedir a continuidade de investigações de suspeitas de ilegalidades dos filhos do presidente.
Moro, pela boa avaliação que mantém nas pesquisas de opinião, também é visto como empecilho a pretensões eleitorais de Bolsonaro. À megalomania deste fazer do Brasil, ao revés, o que tentou o partido derrotado nas eleições presidenciais de 2018.
- A LAVA JATO, tendo por magistrado responsável o juiz de primeira instância da 13ª Vara Criminal da Justiça Federal em Curitiba, Sérgio Moro, fora deflagrada em março de 2014.
Começou como uma investigação prosaica de lavagem de dinheiro a partir de uma casa de câmbio (troca de moedas estrangeiras), localizada em posto de combustíveis e de lavagem de automóveis em Brasília, capital da República.
Ao puxar o fio da meada revelou, como nunca antes na história do Brasil, as entranhas da estrutura dos esquemas de corrupção, base das históricas desigualdades sociais do país.

Provou-se como o projeto de poder do Partido dos Trabalhadores, tendo Lula por líder inconteste, se sofisticou desde a Ação Penal 470 (Mensalão). Como esse projeto aparelhou uma das maiores empresas petrolíferas do mundo, a Petrobras, utilizada como estuário da corrupção.
Alguns de seus dirigentes foram condenados, ao lado de uma centena de empresários e políticos de uma dúzia de partidos. Todos foram obrigados a devolver milhões seja à Petrobras, seja ao poder judiciário para aplicação pública.
Clique aqui e assista ao vídeo no canal do Youtube ZeDeNoca.
Revelado o esquema, a Petrobras foi multada aqui e alhures. Na Justiça de Nova York, ameaçada de uma derrota letal por processos movidos por investidores da bolsa de Wall Street, onde oferece suas ações, preferiu antecipar-se a condenações.
A estatal brasileira celebrou acordos judiciais com aqueles investidores, assumindo pagar multa que beira US$ 4 bilhões.
A Justiça estadunidense obrigou a Petrobras pagar no Brasil parte da multa, cerca de R$ 2 bilhões.
Esse dinheiro resgatado pela Lava Jato será agora, por decisão do ministro do STF, Alexandre de Moraes, investido em educação pública. E na defesa e desenvolvimento da Amazônia.
Odebrecht e OAS, além de outros entes envolvidos, também fizeram acordo e devolveram dinheiro surrupiado ao povo brasileiro pelo esquema da corrupção patrocinada na Petrobras pelos que tinham obrigação de defender os interesses daquele mesmo povo que disseram representar.
Na medida em que Sérgio Moro, símbolo da Lava Jato, personificou a esperança do fim da impunidade dos ricos e poderosos, foi marcado para morrer. Seu assassinato não se deu fisicamente (ainda).
Sérgio Moro é submetido a um assassinato moral.
Desde que mexeu com a estrutura da leniência que habitualmente livrava das grades setores da elite empresarial e política nacionais, não podia esperar coisa diversa.
Entende-se, assim, porque deu o arriscado passo que o fez largar 21 anos de magistratura, abrigando-se como auxiliar do bolsonarismo.

Por torpe, Bolsonaro assiste e colabora, por razões familiocráticas, com a desidratação que aqueles promovem contra o ex-juiz.
Com isso, bolsonarismo, petismo e jornalismo a la The Intercept somam fileiras, se abraçam.
A meta é o retrocesso.
A pá de cal são as anulações de condenações de réus da Lava Jato, Lula à frente. O ministro do STF Gilmar Mendes – quem diria! – é a face aberta na corte desse ataque.
Um subtítulo de Peter Burker (A cultura popular na Idade Moderna), me ocorre. É a vitória dos corruptos, ou da quaresma, se a profecia materializar-se como se desenha nas nuvens.
Meu prognóstico? Se não houver uma reação nas ruas, juntos o Congresso Nacional, Bolsonaro e o STF anulam ou enquadram a Lava Jato.
Excelente análise desse enredo sinistro que vai sendo traçado pelas notícias mais recentes e ameaça fazer o país andar algumas décadas para trás. Faltou apenas uma nota de rodapé a respeito da participação coadjuvante do nosso famigerado movimento negro nessa tragicomédia. Já à época do mensalão, esse esbirros, bedéis e estafetas, eternos candidatos a aspones, uniram-se felizes ao coro dos seus chefetes que atacavam o Ministro Joaquim Barbosa e o acusavam de ser um capitão-do-mato (?!?). De lá para cá, esses figurantes ganharam cabelos brancos, alguns centímetros na pança, mas nenhuma vergonha na cara… O inimigo mortal do povo brasileiro agora, segundo 11 entre 10 “lideranças” do Movimento Negro, chama-se Sérgio Moro e o grito de guerra é Lula Livre! Então fica combinado assim: ser um negro consciente e politizado no Brasil é renovar constantemente a adesão canina às pautas e palavras de ordem de um partido cuja liderança é constituída inteiramente de brancos ricos criminosos, uns já condenados e presos, outros respondendo a vários processos…
Análise conservadora , condizente com o setor da classe media ante petista que contitue uma das bases de apoio , que permitiu ascencao do governo neo fascista de Bolsonaro . E que agora demonstra sua insatisfação e desacordo com o mesmo visto que este tendo janela de vídro não podia ser fiel ao projeto de poder d República de Curitiba calcado na hegemonia do Estado policialesco e punitivista . Que ótimo! bom saber essa coalizão de conservadora de extrema direta rachou . E que se degladie até cair os escombros ! A democracia e a República agradasse!
“Jornalismo é oposição. O resto é armazém de secos e molhados.”, diz o adágio. Se a imprensa consegue obter acesso à informação, ela tem mais é que divulgar. Quem tem o dever de zelar pelo sigilo é o Estado, o qual se acostumou a realizar vazamentos seletivos no âmbito da Operação Lava Jato, nos últimos anos.
Certa vez, um magistrado sabiamente afirmou sobre grampos telefônicos: “A democracia em uma sociedade livre exige que os governados saibam o que fazem os governantes, mesmo quando estes buscam agir protegidos pelas sombras. ”
Agora que a maré virou, no entanto, busca-se criminalizar o trabalho da imprensa, que está revelando crimes cometidos por juiz e agentes públicos da Lava Jato. Haja vista que, sob o ponto de vista jurídico, a atividade criminosa não está exclusivamente relacionada ao cometimento de crimes financeiros, todavia abrange qualquer violação da lei.
Conforme a Constituição, todos têm o direito a um julgamento justo, que respeite o devido processo legal e o ordenamento jurídico vigente, sem que haja brechas para casuísmos. De tal forma que, não é permitido à defesa ou à acusação infringir as regras jurídicas para atingir seus respectivos objetivos. A finalidade deve ser o almejado esclarecimento dos fatos.
Afinal, não compete ao Poder Judiciário ter como premissa a predileção por condenar ou absolver quem quer que seja. Pois, somente por meio do estrito cumprimento da lei é possível alcançar a sua finalidade maior: fazer justiça, seja o réu inocente ou culpado.
Reconhecer isso significa garantir a legitimidade do frequentemente aludido “Estado Democrático de Direito”. Do contrário, corre-se o risco de flertar com a inconstitucionalidade dos tribunais de exceção.
Agora, se mediante o respeito à legalidade não se é possível fazer justiça, o problema então não está na lei, mas sim nos seus operadores.
Elevar a símbolo da Justiça quem comete ilegalidades e desvios ético-profissionais significa subestimar a importância constitucional do Poder Judiciário e aquilo que se pode almejar dele em uma democracia.
Se o argumento é que a Justiça não mais pune apenas os pobres, mas agora também vai atrás dos mandarins, a situação é muito bem vista por todos. Contudo, se até contra os poderosos e endinheirados cometem arbitrariedades, imagina o que não serão capazes de fazer com o pobre cidadão comum, sujeito a toda sorte (ou azar) de perversões de um Estado combalido e a caminho do autoritarismo.
A propósito de Lula, se ainda não é possível asseverar que o próprio cometeu crimes durante seu mandato presidencial, embora haja evidências, é porque, em vez de proceder conforme a lei, procuradores e juiz tentaram “vencer o jogo” buscando atalhos e facilidades no decurso do devido processo legal. Prova disso é que agora ficam tergiversando quando são confrontados com suas próprias mensagens.
O atual ministro da justiça está agora onde há muito pretendia. Abandonou a vitaliciedade da magistratura por quê? Pela esperança de pôr fim à impunidade dos ricos e poderosos? Apenas os incautos aceitam tal fábula piegas. A política não é feita por anjos, mas por seres de carne, ossos e interesses.
Ademais, se hoje ele é ministro, isso se deve exatamente ao “Mito” com quem manteve relações de apoio recíproco, embora soubesse do caso Queiroz, das relações escusas com as milícias do Rio de Janeiro, dos laranjas do PSL, das movimentações atípicas nas contas do presidente etc. Portanto, por questão de honestidade intelectual, não há aqui que se falar em abnegação à causa ou qualquer bolodório desse tipo. Se ele aí está é porque compactua com o que está sendo praticado.
Desejo que a justiça seja aplicada tal como seria a mim ou a qualquer outro anônimo e, havendo culpa, que reste punição para todos, sejam eles “homens da lei” infratores ou políticos e empresários corruptos.
É nisso que resulta a pretensão de transformar ordinários cidadãos em símbolos nacionais.
O Brasil não é uma “Graphic Novel” que precisa de heróis.
“Ao puxar o fio da meada revelou, como nunca antes na história do Brasil, as entranhas da estrutura dos esquemas de corrupção, base das históricas desigualdades sociais do país.” Esta frase reflete mesmo o pensamento profundo e atual do autor deste blogo?
Se for o caso, fico impressionado pela falta de coerência do seu discurso ao longo da sua longa trajetória de vida pois ouvi o mesmo declarar durante muitos anos que: “O escravismo é a base histórica das desigualdades raciais no Brasil”.
A não ser que agora desigualdades raciais e sociais sejam agora coisas diferentes aos seus olhos…
Afirmo: a corrupção é a base histórica do escravismo colonial no Brasil. Por consequência…
Então a corrupção é a mãe das desigualdades, do escravismo colonial, e quem sabe, até do colonialismo neste mundo! Entendi. Obrigado pelo esclarecimento.
Pingback: Greenwald está acima da lei? | fernandoconceicao
Como diz o samba: ” Tristeza, por favor vá embora”
Que surpresa!!! Embora eu ouvisse falar, não sabia que você estava tão ideologicamente distante do Fernando Conceição de “Cala a boca Calabar!” e de “Negritude Favelada”, que tanto admirei!!!