MÔA DO KATENDÊ, mestre de capoeira, no fundo era um pobre diabo.

Que, como a esmagadora maioria dos seus iguais na capoeira, essa típica arte afrobrasileira, morreu na sarjeta tal um pobre diabo.

Aos 63 anos, foi assassinado com 12 facadas por um vizinho de rua de 36 anos de idade, imediatamente preso pela Polícia Militar.

O crime aconteceu pelas 3h da madrugada de 8 de outubro, no fervor de discussão dentro de um bar de biriteiros do bairro onde bebiam e debatiam fazia horas e horas.

Elementar a política, entre diversos outros assuntos banais e apaixonados – como o desempenho na tabela do seu time favorito no campeonato de futebol -, no rescaldo da votação eleitoral do primeiro turno cujos resultados foram anunciados antes das 22h daquela noite, ser parte acalorada das discussões.

Môa, de acordo com testemunhos colhidos pelos policiais, teria reagido ao fato de seu contendor ter defendido a vitória de Jair Bolsonaro, candidato da direita do imberbe Partido Social Liberal (PSL).

E teria aclamado seu voto no Partido dos Trabalhadores (PT), possivelmente tentando, em termos a serem determinados no inquérito,  demonstrar a superioridade e justeza do seu voto em comparação ao oponente – que consumia álcool desde a manhã do domingo.

Disso teria decorrido a briga, com xingamentos e dissensões. O eleitor de Bolsonaro saiu, foi em casa, pegou a faca, retornou e partiu pra cima de Môa, o eleitor do PT. Feriu ainda outro homem que bebia no bar.

Desde então os oportunistas da campanha de Fernando Haddad (PT) e seus asseclas tentam transformar o assassinato de Môa em atentado político.

Cometido, diz a campanha petista, às expensas de Bolsonaro, que concorre com 20 pontos de vantagem à frente do candidato de “esquerda” na votação de segundo turno a 28 deste mês.

Ato público em homenagem a Môa, mais um “nêgo” morto… por outro

DE REPENTE, não mais que de repente, Môa do Katendê é descrito na propaganda petista como “um herói” do movimento negro brasileiro.

Feio, ridículo, improdutivo, inconsequente,

Querem nos vender uma das vítimas do racismo estrutural que grassa na Bahia, ainda agora comandada há 12 anos pelo PT, como um “ícone”, um “símbolo”  da “causa negra”.

Se é que os negros brasileiros têm uma causa verdadeira.

Contudo a realidade é mais forte que a mistificação. Um simples olhar na imagem de Môa do Katendê comprova que a campanha petista busca manipular o óbvio.

Independente de suas qualidades como homem dedicado a manifestações artístico-culturais identificadas por conteúdos de matrizes africanas, Môa era um desgraçado sobrevivente do sistema branco de domínio que na Bahia sempre trouxe negros como ele em rédeas curtas.

Seu corpo envelhecido, seu rosto sulcado pelo sofrimento das interdições históricas, sua boca desdentada, seu olhar alquebrado, tudo nele grita labuta. E denuncia a hipocrisia dos que, depois de ele morto, incensam seu cadáver sexagenário.

O local do crime – uma artéria de rua sem saída conhecida por Dique Pequeno, nas imediações do superfaturado Estádio de Futebol nominado Arena Fonte Nova pelo recém-eleito senador Jaques “Rolex” Wagner (PT), ex-governador petista investigado na Operação Lava Jato – faz parte das “zonas opacas” da geografia da urbe, conceituada por Milton Santos.

Trata-se de lugares mal iluminados, no qual os botequins de cachaça permanecem abertos, biriteiros barulhentos, madrugadas a fio.

São zonas alheias a gentes de fino trato, bem nascidas, tal Haddad ou Manuela D´Ávila, sua vice. Nas quais a polícia bolsonarista tem salvo conduto para matar. (Não foi o caso dessa vez). Como a polícia do governador Rui Costa, na chacina do Cabula.

Mortos da chacina no Cabula, aplaudida pelo PT e seus asseclas em 2015 [clique]

Lugar de pobres e de negros que se amontoam, banguelas como Môa, em moradias irregulares, expostos os jovens, as crianças e toda a gente a todo tipo de violências, disputas, discriminações e abandono do poder público instituído.

Certamente a essa gente Môa do Katendê buscava socorrer com o único instrumento que lhe relegaram: o berimbau. A cultura estereotipada. Mantidos sua indigência pessoal, familiar, bolso vazio e saldo bancário negativizado.

A capoeira, a música do seu afoxé Badauê à época de sua existência nos anos 80, sugado por pústulas como Caetano Veloso, teóricos de “estudos culturais” que pontificam nas Universidades et caterva, nada disso lhe tirou da miséria material.

Podem dança e a capoeira terem proporcionado a ele alguma clientela, alguns alunos e admiradores no círculo de interesse dessas artes. Nada mais. Lhe renderão agora uma estátua em praça pública ou algo alegórico do gênero?

É uma agressão à memória de Môa Katendê o uso que estão a fazer do seu brutal assassinato.

É mais uma das tantas ofensas morais que o moribundo petismo e a “esquerda”, como abutres, fazem aos negros brasileiros que não lambem os seus culhões nem os de qualquer senhor.

O heteronormativo Haddad, do PT, paparicado por “feministas negras”

Os que se prestam a esse serviço sujo abundam, bem sei. Ganham rápidos flashes de holofotes, funções serviçais com cartão de apresentação que lhes permite certa “aceitação” e sociabilidade supridora de carências afetivas.

Parece que até ontem não foi o caso de Môa, cuja morte nesse particular foi totalmente gratuita, desnecessária e inútil a propósitos étnico-raciais.