A 20 DE NOVEMBRO de 1695, registram os documentos oficiais do Brasil colônia de Portugal, as forças de repressão teriam extinguido a experiência quase centenária que foi o Quilombo dos Palmares [clique para saber].
Em 2015, e isso já vem de há muito, representantes e síndicos daquelas mesmas forças estão tutelando a memória do líder palmarino, apelidado Zumbi. Seu nome de batismo católico foi Francisco, dado por um padre que o criou até a puberdade em Pernambuco.
Uma rápida espiada pelas programações oficiais e oficiosas neste novembro, tido como “mês da consciência negra”, deixa a impressão que o próprio Movimento Negro (MN) brasileiro se tornou o Judas Iscariotes daquele mártir.
![Lula, homenageado no 20 de novembro deste ano pelo bloco "afro" Ilê Aiyê, ao lado do sanguinário ditador Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, de Guiné Equatorial, com o qual negociou a apoio da empreiteira OAS ao Ilê no desfile do Carnaval de 2013, cujo tema foi justamente "Guiné Equatorial" [clique para saber]](https://fernandoconceicao.files.wordpress.com/2015/11/lula-e-presidene-guinc3a9.jpg?w=529)
Lula, homenageado no 20 de novembro deste ano pelo bloco “afro” Ilê Aiyê, ao lado do sanguinário ditador Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, de Guiné Equatorial, com o qual negociou apoio da empreiteira OAS, envolvida na Operação Lava Jato/Petrolão, ao Ilê no desfile do Carnaval de 2013, cujo tema foi justamente “Guiné Equatorial” [clique para saber]
O MN estatizou de tal forma Zumbi dos Palmares que agora empresários espertalhões passam a tratar também o 20 de Novembro como um negócio do campo da indústria cultural. Até que demorou.
O que seria uma oportunidade para a ação política sobre a condição de subalternidade estrutural do afrobrasileiro no país institucionalmente racista, virou subterfúgio para carnavais fora de hora.
Marchas que partem do nada para lugar nenhum. Se muito, seminários e workshops que falam de “empreendedorismo” e “empoderamento” negro – como ser quituteiro ambulante e trançadeira de cabelo. Risível.
Na unidade federativa de maior presença demográfica negra, a Bahia, é como se o prostíbulo tivesse se oficializado. Nada contra os prostíbulos verdadeiros. Mas por aqui as coisas ganham ares de Bataclan parisiense.
DOIS EXEMPLOS?
Um pool de entidades ditas culturais, no fundo que se comprazem com o culturalismo enquanto reforço a um esteticismo arquétipo sobre o negro brasileiro, neste 20 de novembro resolveu chamar o ex-presidente Lula da Silva como estrela de uma caminhada ao som dos tambores.
Ou seja, esse pessoal quer forçar a partidarização do 20 de novembro, aliando-se ao que de pior existe no governo federal neste momento. Evidentemente que aliar-se à escabrosa “oposição” – gentes como Aécio Neves ou Jair Bolsonaro – seria ainda mais trágico.
Ocorre que Lula simboliza hoje não apenas a institucionalização ampliada da corrupção e do assalto à maior empresa brasileira, a Petrobras. Seu partido, na Bahia, é responsável pela escalada de homicídios que vitima principalmente a juventude negra. Com aplausos entusiásticos do governador do Estado [clique para ler].
Além do que, ele e seu partido em passado recente rejeitavam programaticamente as políticas de ação afirmativa, de inclusão dos negros nas universidades, a exemplo das cotas. Com o tempo se converteram e, na atual quadra, querem pintar como paladinos da causa. Coisa que é deslavada mentira [clique aquí para saber mais].
O cortejo com Lula à frente em Salvador nesse dia, isto o pessoal do Ilê Aiyê e seu séquito não admitiriam publicamente, foi uma espécie de vassalagem.
Lula mereceu ser vaiado, como foi. Mas também o Ilê Aiyê merece umas tomatadas.
Afinal, como parte significativa dos profissionais do MN – todos chapa-brancas bancados por esta ou aquela instituição governamental ou de cooperação internacional – essa agremiação deve favor a Lula. Como no passado deveu ao coronel Antônio Carlos Magalhães, a quem rendia homenagens nos idos dos anos 80.
Foi graças ao cacique do Partido dos Trabalhadores no poder que o bloco do bairro do Curuzu fez idas e vindas à Guiné Equatorial, homenageando uma ditadura vampiresca [clique para saber] em 2013, em troca de alguns caraminguás.
É isto a consciência negra?! Não a deste escrevinhador.

Carnaval de 2013: uma ditadura homenageada na Bahia por quem em 2015 profana o nome de Zumbi (foto da Agecom)
OUTRO EXEMPLO? A Rede Bahia, holding para os famigerados negócios do carlismo, a partir deste ano resolveu entrar no 20 de novembro organizando e patrocinando um “Afro Fashion Day”.
Assim mesmo em inglês, com desfiles e mostras de moda, culinária, penteados, enfim, de “belezas” específicas, harmoniosas e sorridentes.
Claro, com a cobertura e a repercussão que os veículos de mídia da rede têm condições de proporcionar. Anuncia a fanfarronice como algo que terá continuidade no próximo ano.
A iniciativa da Rede Bahia tem apoio da indefectível Sepromi – secretaria do governador petista que se diz de “promoção da igualdade racial”.
Orçamentariamente desprestigiada, essa Sepromi vive do mês de novembro, empregando uma máquina de aspones baratas-tontas, batuqueiros e crentes místicos do Candomblé e coisas que tais.
Do parco recurso, ordenam-lhe de cima que tem de ser seletiva e cuidadosa nos gastos, promotora não de “igualdade” mas de ôbas-ôbas para os iguais. Falo de cátedra porque recentemente testei.

A imagem trágica que o governo lulista na Bahia aplaude e a negrada tutelada esquece [clique para saber mais]
Perigosa no seu proceder já quase monopolizador, a Rede Bahia quer transformar o 20 de novembro em coisa sua. Desbanca a concorrência no mercado de mídia.
A exemplo do seu “Festival de Verão”, “Festival de Lençóis” e coisas congêneres, estende seus tentáculos. Os quais abraçam artistas da Rede Globo a que é filiada, e coloca suas empresas de marketing e venda de tíquetes a serviço dos seus interesses de lucro. Econômico e político.
Profanada, a memória de Zumbi se presta a isso. Enquanto a negrada rebola a bunda, quando não permanece na sarjeta. Tento analisar isso no livro Nossa Escravolândia, já à venda em livrarias.
Não entendi o “ponga”. Não entendi finalmente se o autor é contra ou a favor do dia 20 da consciência negra. Sua crônica parece ser crítica ao barulho da data feito por quem continua “escravo”… Enfim, mas fiquei com vontade de ler o livro. E uma simples curiosidade: autor é negro?
Sim, “a negrada rebola a bunda”, mas no Brasil… Enquanto na terra do Tio Sam o presidente é afrodescendente – e também a prefeita de Washington, a Procuradora-Geral, o diretor da NASA… E lá eles são apenas 13% da população, enquanto nós somos 52%! Daí a pergunta: por que o negro norte-americano deu certo e o negro brasileiro, não? E por que o nosso chamado “movimento negro” é constituído hegemonicamente por arrivistas medíocres, carreiristas barrigudos, aspones semianalfabetos, burocratas obtusos e socialistas de boteco? Por que não surgem, na população de 100 milhões de negros brasileiros, umas 40 ou 50 pessoas inteligentes, preparadas, corajosas e íntegras capazes de se reunir para construir um movimento que merecesse ser levado a sério? Nas universidades brasileiras, todos os anos dezenas de negros se formam mestres e doutores em ciências políticas, sociologias, antropologias e outras artes esotéricas… Infelizmente, todos eles somados não valem meio Martin Luther King, nem em inteligência, nem em coragem, nem em comprometimento. O mais espantoso é constatar que a situação do negro brasileiro, ao invés de melhorar, regride! No passado já tivemos um José do Patrocínio, um Lima Barreto, um André Rebouças. Mais recentemente, tivemos Abdias do Nascimento. Hoje, temos quem?
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