Ainda não foi dessa vez – e acho que minha geração vai morrer com essa lacuna – que Shakespeare mereceu uma montagem local à altura em palco e companhia.
Troilus & Créssida, de William Shakespeare (1564-1616), no Teatro Vila Velha, Salvador, Bahia? Coisa rara a ser vista, em se tratando do bardo inglês. Fomos conferir na penúltima apresentação, noite de sábado, 25, a R$ 30 por cabeça.
Um equívoco total. Há barulho demais, música demais, gente demais, correria demais, trapalhadas demais, trejeitos demais, iluminação demais, batuques demais, microfones berrantes demais. Tudo na montagem conspira para destruir, e não ressaltar, como deveria ser, o texto shakespeariano.
Este, o texto, ganha um papel secundário, abafado e sufocado pelas gritarias excessivas e fora de lugar, pelo flerte com a nudez despropositada e, algumas vezes, nonsensemente apelativa, pela sobreposição de falas e batucadas.
O que há de menos são sutileza, maturidade no conjunto dramatúrgico da tragédia, reverência ao autor e ao público – que boceja e abandona a platéia assim que pode, logo depois dos primeiros 60 dos 150 minutos do maçante espetáculo.
Shakespeare não merecia ser tão enxovalhado. Nem mesmo por baianos, nativos ou adotados, ególatras por natureza que consideram trazer o mundo na barriga. Daí a confundir o teatro reflexivo de Troilus & Créssida é daqui para uma Ivete Sangalo.
Ousar “montar” Troilus & Créssida, texto em que 9 de 10 especialistas consideram o mais difícil de Shakespeare, como conclusão de curso livre em parceria da Escola de Teatro da UFBA com o diretor Marcio Meirelles não foi ousadia.
Foi covardia com Shakespeare e com os alunos. Ainda que no samba do crioulo doido dirigido por Meirelles, algumas almas penadas ainda brilhem. Naquela noite, pela ordem, a garota que interpretou Agamemnon, o cara que fez Pandaros, a que fez Helena, o que encarnou Ulysses, o Páris, Diomedes, a garota em Nestor e mesmo a que, mais ou menos, fez Créssida.
Ainda ouviremos falar de alguns desses futuros atores, e, se tiver sorte, mais ainda do que, em feliz sacada de Meirelles, divide com uma colega (não menos bem colocada) a personagem Tersite.
Marcio Meirelles, que, em minha modesta opinião, é uma das pessoas mais queridas que conheço, está nos devendo um Shakespeare melhor do que as tentativas que vem realizando no Vila Velha. Para isso terá de domar o excesso de vaidade: ir a um analista e acabar com esse seu pseudo bom-mocismo, complacente com o baianês de roncó populista.
Você é um raro cavalheiro ou teme algum tipo de retaliação, característica de sociedades provincianas?
Márcio Meireles não é diretor de teatro, nada sabe de teatro.
É somente o produto de um mal traçado plano de marketing pessoal.
Nem em cargo público prestou serviço à Cultura.
Por isso é que seu nome e seu universo estará sempre restrito ao quase desértico ambiente cultural soteropolitano.
Concordo com Clarisse e acrescento,
Shakespeare e outros gênios da literatura global estão aí, bem acima das nuvens, acima de tudo, são o céu e todas as coisas, estando, portanto, imunes a esse tipo de ataque do pessoal aqui de baixo. Essa galera do Vila Velha é que é autodestrutiva. Aliás. autodestrutiva e descartável, como tudo que acontece no teatro e na cultura baiana, depois de Edgard Santos, Martim Gonçalves, Gianni Rato e dos formandos da Escola de Teatro da UFBA, das primeiras turmas e das turmas anteriores ao bombardeamento da cultura pelos canhões da fase militar da ditadura capitalista neoliberal e das fases civis que se sucedem, todos mamando nas verbas dos projetos culturais, numa verdadeira farra entra amigos com o dinheiro público.
Esta tragédia Shakespeariana caminha entre a comédia obscena e tragédia sombria, onde inúmeros sutis e ricos pormenores apresentam uma modernidade desconcertante. Foge de uma tragédia convencional que geralmente acaba com a morte do herói/heroína. Por ser muito difícil de ser interpretada, tudo dependerá da leitura do diretor, dos atores a fim de que a montagem reflita bem o gênio shakespeariano. Gostaria muito de ver a montagem, a fim de possuir maiores pormenores e maiores possibilidades para uma leitura em parceria. Sendo Shakespeare o Mestre dos Mestres da literatura e que deveria ser representado todos os anos em todos os estados, penso que valeu a tentativa.
Só pra vc dar uma lida, antes de sair por aí falando bobagens sobre os espetáculos q vê.
http://macksenluiz.blogspot.com.br/2014/01/outros-palcos.html (Texto de crítico do jornal O Globo)
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrada/149488-novo-vila-velha.shtml
Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Estes dois links respondem por mim:
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrada/149488-novo-vila-velha.shtml
http://macksenluiz.blogspot.com.br/2014/01/outros-palcos.html
Não vi essa montagem, mas aprecio muito as cenografias de Márcio Meirelles, são memoráveis as cenografias das peças do Grupo Avelãs & Avestruz e gostei de sua adaptação de Medeia em Medeia Material. A crítica de Fernando aguçou minha curiosidade em conferir essa adaptação. Vou conferir. As críticas são importantes, pois elas quase sempre despertam a curiosidade.
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