Este artigo, originalmente escrito para o jornal CORREIO BRAZILIENSE, foi censurado pela Cojira – Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial, que o solicitou como estreia de colaboração periódica deste escrevinhador.

A Constituição Federativa do Brasil não proíbe ninguém de ser racista.

Seria inócuo se o fizesse – digo eu, ativista há décadas da luta antirracista neste país de tradição e mentalidade escravistas.

O que a Carta Magna de 1988 veta é a prática do racismo (Art. 5º, XLII). Os incisos IV do Art. 3º e VIII do 4º antecipam esse princípio.

Destaque-se o caput do referido Art. 5º, pelo qual “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza (…)”. Disso decorre tudo o mais sobre o tema.

Autodenominados porta-vozes de setores do movimento negro brasileiro – aos quais o atual presidente da Fundação Palmares da Presidência da República, não destituído de toda razão, definiu de “escória maldita” – trabalham com a hipótese da conversão dos que denominam “brancos” à causa da improvável eliminação do racismo entre nós.

Brancos, enquanto categoria de raça/cor, jamais se converterão em suicidas. Abrindo mão, apenas para satisfazer caprichos de gente como a “filósofa” petista Djamila Ribeiro, de seus históricos privilégios.

O “filósofa” está entre aspas porque ninguém ideologicamente orientado por facções partidárias tem isenção moral de pensar por si. Ou de per si.

Sérgio Camargo, presidente da Fundação Cultural Palmares de Jair Bolsonaro. Não destituído de toda razão, generalizou ao chamar de “escória maldita” o denominado Movimento Negro

Se é verdade que as práticas baseadas em hierarquias raciais desde sempre estruturam – para usar um jargão marxista em sua crítica da economia política – o Estado herdeiro das relações de produção escravista que aqui perdura, a única possibilidade de alterar o status quo seria emular, em pleno século XXI, a revolução de Toussaint L´Ourverture no Haiti do século XVIII.

Como uma ruptura revolucionária com o sistema vigente é uma miragem, o que compete aos combatentes da Grande Desigualdade no Brasil? Palmilhar, à luz da Constituição, os direitos individuais, coletivos e sociais ali enunciados como um devir.

Apoiar tudo o que venha no sentido de tornar cada vez mais pública essa República apropriada, como cravou Sérgio Buarque de Holanda em Raízes do Brasil, por interesses de grupos oligárquicos. Ditos progressistas ou conservadores.

Interesses familiocráticos, corporativos – mesmo em nome de “boas causas” – devem ser denunciados.

Não por mero alinhamento político-partidário. Mas por, partam da direita ou da esquerda do espectro ideológico, realimentarem o que há de estruturante nas relações institucionais.

A apropriação do Estado pelas elites políticas civis ou militares que, sucessivamente, revezam-se no poder com o inconfessável intuito de locupletarem-se, beneficiando os seus, deve ser repudiada como uma práxis orientada pela consciência. Não pelo oportunismo.

Rouba-se o dinheiro público em negociatas com empreiteiros, mercado financeiro, redes telemáticas, grupos de mídia. Deixa-se corromper por aqueles.

Corrompe-se mesmo putativos intelectualoides – as Humanidades e as Sociais, na academia, tornam-se instrumentos de politicagem, rejeitando a crítica dissidente e afastando-se da ciência.

O próprio movimento social – dentro dele a tal “escória” denotada por Sérgio Camargo, escória muito mais maldita porque abrange o sindicalismo, o movimento estudantil et. caterva -, tutelado pela retórica do adesismo, somente fala em direitos.

O que dizer dos deveres? Para ser racional a condição sine qua non de debate é o dever com a honestidade intelectual.

Desde o segundo turno das eleições de 2018 quem tem poder de vocalização na esfera pública assumiu como verdade ser racista o presidente consagrado na urna pelo voto popular.

Admitamos que Jair Bolsonaro seja um empedernido racista. Como aferi-lo, à luz dos parâmetros constitucionais? Ele também pode ser acusado de carnívoro e de barrigudo!

Qualquer pessoa tem o direito de manifestar preferências de gosto, desde que não sejam crimes.

A meu ver, estou nem aí se o presidente atual seja racista. Como de resto os dos demais poderes da República e seus antecessores também o fossem: basta olhar a fotografia do primeiro escalão levado à Esplanada em eras do “iluminismo” das esquerdas.

Nada de bom espero de Bolsonaro. Contudo, racista que o fosse, foi o primeiro presidente a tentar um negro na mais importante e aquinhoada pasta ministerial do poder executivo.

Foram as ilibadas “boas almas” supostamente progressistas, incrustradas em antros exclusivos como a Fundação Getúlio Vargas, que execraram o currículo de Carlos Decotelli.

Como jamais fariam com as mentiras curriculares de outrem (Dilma, Mercadante, Salles, Damares, tantos…). Hoje, como ontem.

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