PROPONHO que se contrate, a partir da recente falsa polêmica sobre o racismo brasileiro, apenas serviços de receptivos com recepcionistas de aparência nórdica, sueca, dinamarquesa, para os eventos festivos de quem possa contratá-los.
É que as chamadas “baianas de acarajé”, uma atividade profissional reconhecida como patrimônio cultural imaterial no Brasil, estão sendo levianamente atacadas em redes sociais por se deixarem fotografar em cenas que remetem ao imaginário escravista da sociedade brasileira.
A protagonista da falsa polêmica é uma socialite branca, editora de revista de moda feminina.
Donata Meirelles, atual esposa do bem-sucedido empresário e publicitário baiano Nizan Guanaes, contratou para sua festa de aniversário as baianas de acarajé.
Todas vestidas a caráter, em momento que aparenta descontração, contratante e contratadas tiraram fotos juntas. Sorridentes, revezaram poses sentada uma numa cadeira ornamental e em pé outras, e vice-versa.

No que poderia ser lido como uma mensagem de confraternização e reconhecimento mútuo – a patroa rende deferência às “baianas” ao se deixar fotografar congraçando-se com elas -, pareceu a alguns setores de ativistas das redes sociais uma ofensa “racial” absurda!
Tais setores estão linchando Donata e “baianas”. Não é nada gratuito isso.
Mesmo porque, há todo um “mercado” em Salvador, pelo qual há muito os turistas são em certa medida assediados para fazer registro em fotos com essas mulheres, similares às atuais imagens supostamente polêmicas.
Onde já se viu, uma branca aloirada se valer de sua “condição” de branquitude para “humilhar” toda uma “raça”, reproduzindo 131 anos depois da abolição negra imagens do cotidiano escravista brasileiro?
E essas baianas, quanto cobrariam para se deixaram chicotear?
Não é um debate sério. A inveja que negros brasileiros em geral têm de brancos – quase quaisquer brancos – e outros negros melhor sucedidos é coisa atávica.
Algo quem nem Freud explica. Mas Frantz Fanon já tentou, em Os Condenados da Terra.
Um complexo de inferioridade que os paralisa – já que incapazes do enfrentamento frontal com o racismo. E os faz voltar sua ira a outros negros dos quais gostariam aqueles de estar no lugar.
Assista o vídeo com os comentários aqui.
Isso atesta como o passado histórico escravocrata do país continua sendo um componente extremamente determinante para os padrões de sociabilidade do povo brasileiro. Do contrário, essa imagem não teria sido motivo de tamanha controversa.
Se por um lado, há o reconhecimento de que a memória e a ancestralidade da cultura negra devem ser celebradas e reconhecidas; por outro existe uma justa e compreensível aversão ao estigma da escravidão negra e ao preconceito racial que marca as relações sociais e as características demográficas no Brasil atualmente. Esse é um cruel paradoxo. Haja vista, as políticas de cultura governamentais de estados como a Bahia, que sempre buscam explorar comercialmente as representações simbólicas de matriz africana e com isso, inevitavelmente, também põem em evidencia o passado de submissão e aviltamento dos negros.
Parece que as pessoas preferem continuar de ouvidos tapados para as reflexões presentes na fala do professor Fernando Conceição. Reflexões cuidadosas e exemplares.
Beleza Fernando. Só ví hoje. Concordo 100% c vc e foi exatamente neste sentido q me manifestei no momento da e-inquisição e do e-linchamento. Esses não-militantes (ou militantes do ciberespaço e da pós verdade) colonizaram as universidades, a imprensa e as redes sociais e agora são uma desgraça q só contamina e destrói qualquer perspectiva de inteligência e ativismo por um mudança do mundo real.