HOBBESIANO em parte, submeto-me ao contrato social. Determina ser o Estado o único detentor do monopólio do uso da força.
Ele, o Estado, detém os instrumentos e ferramentas que lhe possibilitam garantir a segurança de todos. Como ser armado. Quando essa obrigação falha, cai na desconfiança.
O Estado, composto por homens, não pode tudo. Seu limite ou é o costume de dada comunidade-sociedade ou é a lei.
Neste momento o governo federal recém-empossado flexibiliza a legislação que permite pessoas em pleno gozo de suas responsabilidades possuir armas de fogo em casa.
Ótimo! Explico o porque no youtube.com/ZeDeNoca. Clique para assistir.

Por hobbesiano considero ser a natureza humana tendente à paixão, à inveja, ao ciúme. O interesse particular é o leitmotiv a guiar os viventes.
Sem peias, tenderá a se impor sobre o interesse dos outros homens, ou o interesse comum.
Evidentemente, como ensina Maquiavel, é preciso simular e bem dissimular tudo isso. Ter a astúcia da raposa.
Ao Estado-Todo-Poderoso, o Leviatã hobbesiano, não pode o cidadão, o soberano que o instituiu, permitir que usurpe de seus direitos fundamentais.
Entre tais direitos, o da autodefesa.
O cidadão tem a prerrogativa, inalienável, de se defender. Do Estado, se este é usurpador e corrupto.
De outro ou outros homens que lhes ameace a integridade – sua, de seu patrimônio, de sua família.
A Constituição dos Estados Unidos da América, que sempre cito em aulas comparando-a positivamente às constituições brasileiras, explicitou esse dilema natural.
Qualquer um tem o direito de, por justa causa, se defender. De outrem ou do poder usurpador. Se for o caso armado com arma de fogo.
O resto é silêncio… Shakespeare.
Se adotarmos a teoria do contrato como uma premissa, o raciocínio se mostra coerente. Afinal, não há razão de ser do Estado Moderno senão organizar e gerir o funcionamento da vida social. O conjunto dos cidadãos abdica de parcela de sua autonomia e liberdade em prol do surgimento de uma poderosa instituição capaz de prover as necessidades da coletividade.
O problema, todavia, torna-se mais complexo se entendermos o Estado Moderno como uma instituição restritiva organizada para assegurar e legitimar prerrogativas e interesses econômicos de alguns grupos sociais sobre outros. Raciocínio também coerente dada a atual configuração da política no Brasil. É aí que mora o perigo!
Quando se pensa em toda sorte de preconceitos e contradições sociais oriundas do sexismo, homofobia, racismo etc., que endossa ainda mais as desigualdades socioeconômicas, a liberação da posse de arma de fogo a qualquer cidadão no gozo de suas “responsabilidades” se mostra, no mínimo, temerária.
A propósito disso, não me recordo de episódio semelhante à chacina do Cabula também haver ocorrido em distintos logradouros de Salvador como Barra, Ondina, Itaigara, Pituba, Vitória, Graça etc. No entanto, ainda que sem tanto apelo midiático, tais casos se reproduzem abundantemente nos “guetos” da cidade.
Dizem analistas que o voto não deve ser facultativo no Brasil em razão da precária formação política e cultural do povo e do risco que a abstenção causaria à democracia. Contudo, a despeito do péssimo IDH registrado no país e dos altos índices de criminalidade, entusiastas acreditam haver discernimento suficiente para a posse de armas de fogo por alguns que poderão arcar com os custos de sua obtenção.
Neste momento, infelizmente, convém lembrar que a carne mais barata do mercado é a carne negra.