farei um poema de amor um dia
falando das desgraças dos povos
mas da alegria particularizada de se viver…
cantarei o nome de uma fêmea bem alto
imitando os azarougues
e procurando um pasto de verdedura
– concha das nossas promessas.
sim um dia farei um poema
tão viscoso quanto o leite quente das vacas
mas que seja perene.
Algo que aguce a felicidade
de se ser deserto na profícua avenida turva
sem desníveis abruptos.
E transponível.
farei um poema de amor
que invente um verso metaforial
para os olhos marrons da amante de hoje
e saiba também agradar
os cegos ontem de paixão. Falarei
da beleza auricular
de se resistir à morte que vem.
um poema mar de todos os frutos marinhos
esquina de todas as sombras e céu de todos os universos;
um dia o farei vagaroso
e circunspecto,
como se recostado prenhe num colo púbico.
Um dia, faço um lindo poema de amor
– e assim refaço o mundo.
(sem data, anos 90).
eu gostei pq me lembra um garoto