Veja esses títulos de matérias da cobertura jornalística do 2º turno das eleições na terceira maior capital do país:

  • Em breve discurso, Lula faz acusações contra Neto (capa, 25/10, a três dias do pleito).
  • “Neto plantou mentira sórdida” sobre o Bolsa Família, acusa Lula (25/10, pág.11).
  • Depois de Dilma, Lula chega para comício de Pelegrino (24/10, pág. 9).
  • Pelegrino reforça campanha em áreas onde venceu no 1º turno (24/10, pág. 10).
  • Protesto de estudantes (contra ACM Neto, no bairro do Canela) [id., ibidem].
  • Pelegrino promete ambulantes no entorno da Fonte Nova na Copa (26/10, pág. 10).

E, na edição do dia mesmo da eleição, 28 de outubro, a manchete de capa, com um “olho”:

  • Candidatos encaram batalha finalPesquisa Ibope/TV Bahia apontou vantagem para Neto: 55% contra 45%. Pelo Babesp, deu empate técnico (com vantagem para Pelegrino).

Uma breve e rápida leitura nas edições do mais acreditado diário impresso da Bahia, A Tarde, leva à seguinte dedução: o viés da cobertura jornalística das recentes eleições para a Prefeitura de Salvador favoreceu o candidato Nelson Pelegrino (PT). Inclusive em centimetragem e tratamento editorial.

A maioria dos textos da semana em que se deu a votação ressalta aspectos positivos do candidato da coligação petista-kertista-IURDista. Ou frugais, como o estilo da coluna “Tempo Presente” que, em 26/10, novamente abria espaço para falar da presença de Dilma Rousseff na Bahia, dessa vez convidada para o casamento de um parente de Fátima Mendonça, a primeira-dama do Estado.

Quanto ao candidato do Democratas, ACM Neto, o que sobressaem na cobertura são aspectos negativos, que o colocam na defensiva. Eis dois títulos de matérias:

  • Neto pede que Lula reconheça papel do avô (26/10, pág. 9).
  • ACM Neto diz que não é candidato das elites (24/10, pág. 11).

E só. A edição sobre as declarações de Lula, de 25/10, em comício não trouxe nenhuma matéria sobre a campanha de ACM Neto. Trazia, sim, uma reportagem sobre um “debate repetitivo” ocorrido na TV Aratu/SBT na noite anterior, com destaque para a participação das vices candidatas. E o texto sobre os ataques de Lula não ouvia o outro lado, isto é, ACM Neto. Cuja resposta aos ataques somente sairam na edição que circulou dois dias depois.

CHARGES E PUNIÇÕES

O privilegiado e editorialmente exagerado espaço das charges do jornal fez campanha aberta contra ACM Neto, a favor de Pelegrino. Durante os dias que antecederam o 28/10, A Tarde somente publicou desenhos em que o candidato do DEM era retratado como uma espécie de anão, enquanto Pelegrino aparecia como um gigante.

No 2º turno a justiça eleitoral representou contra abusos nos meios de comunicação cometidos a favor do candidato do PT. Foram alvos da ação judicial a Rádio Metrópole, do empresário e candidato derrotado Mário Kertész, e a TV Record/Itapoan, do “bispo” Edir Macedo da IURD, cujo candidato derrotado, “bispo” Marinho, também veio apoiar Pelegrino. Tais apoios, incluindo ainda o do inexpressivo eterno candidato Da Luz, receberam generosos espaços de A Tarde e da propaganda eleitoral petista.

A preguiça, o despreparo, a má-formação das equipes envolvidas na cobertura eleitoral dos jornais, TVs e rádios em Salvador podem ter influenciado na pobreza de pautas e temas. Nada de investigação, nada de apuração de denúncias, nada de incomodar os candidatos, que passaram ilesos e arrogantes pelo jornalismo burocratizado em que se transformou o ofício na terra do dendê.

O poderoso conglomerado de comunicações dominado pela família de ACM não foi molestado, o que atesta uma cobertura o quanto possível contida. Deve ter frustrado expectativas da militância e simpatizantes petistas – inclusive incrustrados nas Escolas de Comunicações e Ciências Políticas de nossas universidades.

Fosse outra a conduta da Rede Bahia, a essa altura os “caras pintadas” (muitos, em outros momentos, ansiosos por um contrato ou um estágio no conglomerado) estariam verberando contra “a mídia golpista” comandada “pela Zelite”.

A manchete de A Tarde, e o texto da matéria principal, no dia de votação, são simplesmente uma vergonha. Por comparação, veja a manchete do mesmo dia na Folha de S. Paulo que, como jornal pluralista, vez por outra é atacado pelos próceres do lulo-petismo, como pertencente ao “PIG – Partido da Imprensa Golpista”:

  • Haddad será eleito, diz Datafolha

Clareza e objetividade. Já a manchete “Candidatos encaram batalha final” e a matéria de A Tarde confundem e desinformam o leitor, ao atribuir valores e pesos iguais a um instituto de pesquisas renomado, o Ibope – usado pelo PT quando vai bem na fita -, que dava uma diferença de 10 pontos percentuais, muitíssimo além da margem de erro, e a um troço chamado Babesp.

Babesp!? De onde saiu isso, para merecer o tratamento sério e respeitoso de um dos mais importantes jornais brasileiros? No texto abaixo da manchete A Tarde acrescenta ser o “instituto Bahia, Pesquisa e Estatística (Babesp), do deputado Marcelo Nilo”.

Cuma?!

Desde quando uma quitanda do presidente em três mandatos da Assembléia Legislativa da Bahia, aliado submetido ao governador Jaques Wagner (PT) – e cogitado até para a sucessão deste – tem essa credibilidade toda? Só na Bahia… e na “nova” centenária A Tarde.