O Estado Brasileiro não mais será o mesmo depois do brilhante trabalho técnico, no campo jurídico, comandado por Joaquim Barbosa, ministro da suprema corte do Brasil – o STF, Supremo Tribunal Federal -, relator da Ação Penal 470, mais conhecida como o “Mensalão do Partido dos Trabalhadores” (PT).
Reações das elites macomunadas com a quadrilha do mensalão, cujo comando Barbosa acaba de confirmar ter sido do todo-poderoso José Dirceu – um dos artífices da chegada do PT ao poder em 2003 e ministro-chefe da Casa Civil do governo Lula – tentam desqualificar o trabalho de Barbosa e misturar as bolas. E o movimento negro institucionalmente organizado, como tem se manifestado ao desempenho atual do relator do mensalão? Constrangida e acabrunhadamente.
Barbosa está mandando para a cadeia altos próceres da República, numa inflexão radical da imagem de leniência, como classificou edição da revista “The Economist” semana passada, que se tinha daquele STF. De banqueiros a deputados, a empresários graúdos a ex-ministros e presidentes de partidos políticos, até mesmo o partido no poder desde 2003 – o PT.

A foto acima foi clicada em 1999, quando Joaquim Barbosa (dir.) e este escrevinhador conviveram em atividades acadêmicas, estreitando laços, em Manhattan, Nova York. Ele, em pesquisa de direito comparativo, como visiting-scholar da Columbia University; este, em período de doutorado “sanduíche” na New York University (NYU). Fomos apresentados pelo professor Michael Turner, do Hunter College da City University of New York e, por três meses seguidos, trocamos idéias, principalmente sobre políticas de ação afirmativa, razão de nosso dissenso à época. A garota ao centro é a hoje jornalista Adriana Jacob.
Brasileiros cansados com a impunidade e com a tradicional inatingibilidade da lei contra os poderosos, têm se referido a ele como um “herói”. Em espaços públicos e por redes sociais. Recentemente numa dessas manifestações de aplausos, ele fez questão de rejeitar o título. Disse ser “um barnabé”, isto é, um mero servidor público como deve ser um servidor público, em cumprimento do seu dever.
Negro em um país que ainda vê o negro como serviçal e submisso. Capacitado. Dos mais qualificados entre os indicados ao então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (ícone do petismo), que o escolheu. Joaquim Barbosa supreende toda a Nação pelo rigor do seu trabalho investigatório da denúncia de compra em dinheiro, pelo PT, de parlamentares de outros partidos para aprovação de reformas até mesmo constitucionais na Câmara dos Deputados, no primeiro mandato do governo Lula (2003-2006).
Seu trabalho como relator do processo demonstra-se tecnicamente perfeito. Inclusive na metodologia proposta, de análise fatiada da ação – o que pegou o PT e toda a equipe de advogados de defesa altamente bem-pagos de calças curtas. Lula, por exemplo, que ao se despedir da Presidência do país em 2011 declarou que sua principal tarefa seria provar que “o mensalão foi uma farsa”, hoje juntamente com sua turma mantém-se em um silêncio envergonhado.
Dizem estar enraivecido por ter escolhido Joaquim Barbosa para o STF. O que esperava? Que o juiz Barbosa fosse agradecido e lhe devesse fidelidade canina? Ou que, como magistrado da corte maior, honre a função de forma altruísta, com dignidade e autonomia, como tem feito?
Se antes e mesmo no início do julgamento em agosto, tinha-se a impressão, entre os cardeais da República e no senso comum da população, que devido à alta patente dos denunciados tudo daria em nada, como sempre ocorreu na história do Brasil, dois meses depois a avalanche de condenações faz com que os réus já se preparem para gozar um período atrás das grades.
Quanto ao movimento negro institucional, por ser comandado também por uma elite, toda ela ou vinculada ou submissa ao comando dos partidos que chegaram ao poder com Lula, na presente quadra da história faz ouvidos moucos. Como fazem outros movimentos sociais que, sendo outros os protagonistas do esquema quadrilheiro, certamente estariam agora fazendo o maior barulho.
Triste que assim seja, e isso comprova outra vez a alienação, a indigência política, o cinismo e a dependência material resultantes do lugar subalterno ocupado por essas “lideranças”. Estivesse Barbosa investido da mesma função e tarefas em outro país racista, como os Estados Unidos, sua face já estaria estampada em camisetas, broches e bonés, com a insígnia: “Orgulho de ser barnabé como Joaquim Barbosa o é”.
Fernando,seu texto…ESPLÊNDIDO!!!
O movimento negro institucional,com certeza vai ou já passou essa notícia:O Ministério da Cultura anuncia lançamento de editais para negros.Segundo o texto do MinC,houve um”Desabafo de que a cultura negra é apoiada pelo MinC,mas não é realizada por produtores e criadores negros”.A manhã(7) tem eleições,e os INCAUTOS terá regozijo…13 na cabeça!
A pugnação do ministro Joaquim Barbosa, desforra a impunidade dos escândalos históricos e recorrentes na história deste país. Seja pelo caso, do Pc Farias, do Celso Daniel, do Neilton morto na sede da secretaria municipal de saúde, do desvio da merenda da escola e de todos os outros, o recado que se dá é de que a bandalheira hoje não é mais impune, dá cadeia.
Mesmo ciente dos recursos e brechas da lei que o valha, consagra a crença de que neste país não haverá mais espaço para a corrupção sobranceirosa proeminente nas instituições públicas. Neste sentido a participação e postura do ministro, enquanto relator tem sido fundamental no resultado do julgamento.
Para quem ainda acredita que a vida parlamentar é quase sinônimo de corrupção ou para quem argumenta que a atitude do Partido dos Trabalhadores foi repetir a assinatura previsível nesta página do surripiamento do que é público… A corrupção não pode ser banalizada e não tem o direito de minar a nossa democracia. A luta daqueles que apanharam, morreram, enlouqueceram, não pode ter sido em vão.
As políticas sociais perdem com este clientelismo. É descarado o silêncio de parte do movimento social desde então. Torna-se reflexo do quão sufocado está no seu partidarismo. A igreja, a imprensa, a elite… Estes aprendi a “bater” desde sempre, mas, a atitude desdenhosa deste movimento que diz falar em meu nome e no seu, é a mesma de uma mulher que apanha do marido todos os dias mas, é capaz de matar com um tiro, quem se atrever a falar mal dele.
Sinto falta do barulho deste que ideologicamente já foi um grande astro luminoso, que me fez algum dia, conscientemente, estufá-lo no peito. O julgamento do mensalão transpassa o desejo de punição pelo fato apenas. Devolve em nós o desejo de que os jogos dos recursos públicos, do dinheiro da escola, do posto de saúde não sigam escorrendo pelo ralo.
Nesta aproximação de mais uma eleição municipal vou com mais fidúcia votar pela minha cidade. Adormeço por ora, o sentimento do destroço encontrado em toda esquina e em cada corpo negro estendido nas vielas ignoradas da cidade do Salvador. Apesar de uma disputa sem excitações, onde o confronto do debate cedeu espaço para o relativismo tão pernicioso no guarnecer da nossa democracia e, da falta de coragem da imponderabilidade dos candidatos, bendito és tu o sentimento de mudança.
As políticas assistencialistas até nas camadas mais fragilizadas defrontam-se com uma mudança sutil no entendimento da política. Isto ainda pode não ser sinônimo de voto consciente, mas o nojo que se tinha da política e a certeza da corrupção impune, transformam-se ao passo que a atuação do Supremo, a lei da ficha limpa…, compõem uma nova engrenagem em nossa democracia.
Herdeiros das malícias da colônia de exploração, demasiadamente humanos e corruptíveis que somos, estamos construindo e fortalecendo as leis deste país. O eleitor, assim também tem se aperfeiçoado. Neste movimento, confio que os nossos candidatos não hesitarão em se enquadrar na dança.
Grande Fernando Conceição. Você realmente foi um grande militante do movimento popular e negro. Mas seus infortúnios enquanto militante do Partido dos Trabalhadores (e eu sou solidário a vc embora desde sempre militante do PC do B) certamente fizeram com que suas posições acerca do PT descambassem para o ressentimento algo que em tese não condeno, pois, quem tem sua dor, é quem geme. No entanto, com todo o respeito, sinto contrariá-lo nessa questão. Nesse verdadeiro tribunal de exceção montado pelo PIG tendo como lugar-tenente um ministro do STF afeito a lances midiáticos e deslumbrado com a fama repentina não há nenhum objetivo de sanear o ambiente político em nosso país. Há sim uma ação política para desconstruir a era Lula que colocou o Brasil em um ciclo virtuoso de crescimento econômico com distribuição de renda e relativa porém gradativa inclusaõ social, o que se tornou algo exasperante para a direita acostumada ao espaço da hegemonia no plano federal, estadual e municipal. A corrupção neste país tem DNA e certamente não está na esquerda embora esta também não esteja imune a esse vício cultural existente desde a chegada dos colonizadores portugueses. O tempo como sempre é o senhor da razão. Joaquim Barbosa hoje já é chamado de “herói de toga” pelo PIG; amanhã provavelmente estará de mãos dadas com algum candidato da direita (ou quem sabe, será ele próprio, o candidato?) para defenestrar a esquerda do poder federal e por aí vai. Quem viver, veremos! Axé.
Vardir Estrela, são falsas as premissas com as quais você baseia seus comentários. Por isso suas conclusões são também falsas. Se não, vejamos: 1) criticar os descalabros do PT ou do PCdoB, que, aqui ó, que são de esquerda, em nossa província seus defensores reduzem ao discurso de questiúnculas pessoais. Enfrentei os “donos” do PT lá atrás, no nasceudouro do partido. Não por ressentimento ou dor, mas por lucidez. Daí ter sido expulso. Como militante do PC do B, critique os coronéis-proprietários do seu partido, e verá o que acontece a você. 2) Esse papo de “PIG” é pra boi-dormir. Para mentes stalinistas, como diria Delúbio Soares, “jornalista bom é jornalista morto!”. A imprensa para vocês somente serve se for servil, se não criticar os descalabros de quem está se lambuzando à frente do governo (seja o do Estado, seja o dos sindicatos sob seu comando, seja da UNE etc). 3) O que você chama de “ciclo virtuoso de crescimento econômico da era Lula?” Já olhou os dados de crescimento na última década de países com menor potencialidade aqui na América Latina, na Ásia e mesmo na África (Angola, Chile, Índia, pra não mencionar China, pois aí seria covardia)? 4) “distribuição de renda e relativa inclusão social”: concordo com você. Mas não foi Lula quem começou isso. Como a própria presidente Dilma já reconheceu em discurso em homenagem a FHC, foi lá atrás, desde a implantação do Real (que o PT renhidamente combateu quando na oposição), com a valorização da moeda e o controle inflacionário, que as bases foram lançadas. 5) O que você chama de “direita acostumada ao espaço de hegemonia no plano federal, estadual e municipal” não perdeu espaço com Lula. Pelo contrário: se manteve e se solidificou no governo “de esquerda”. Seria ocioso lembrar de quem Sarney, Maluf, Renan Calheiros, Cesar Borges, Otto Alencar, Fernando Collor (com este, o PCdoB também andou de mãos dadas nas Alagoas), Henrique Meirelles, Delfim Neto, são aliados empedernidos. Para não falar dos banqueiros que, como não se cansa Lula de se regozijar, “nunca antes na história deste país ganharam tanto dinheiro”! Se o PC do B, como inquilino menor dessa farsa histórica, se alia a Collor e também faz alianças com diversas forças conservadoras por este Brasil afora para conquistar o poder; se o PT faz e fez isto desde a eleição de 2002, como pode você vaticinar preconceituosamente uma possível candidatura de Joaquim Barbosa em aliança com a “direita”? para você somente serviria se fosse com a turma do mensalão e com gente como o ex-ministro Orlando Silva?
Alguém aí disse:…sanear o ambiente político em nosso país(DESSE JEITO,COM ESSA TURMA?!)
…vício cultura existente desde a chegada dos colonizadores portugueses.(PRA QUEM NÃO SABE,O BRASIL FOI DESCOBERTO EM 2003)hehehe
Por falar em Pig,é a mesma federal?
Um julgamento dessa envergadura,com comentário SIMPLÓRIO…é lamentável!!!
Grande Fernando,
Sua verve continua afiada. Gosto disso. Sinto falta inclusive de A província da Bahia, um sopro de irreverência gregoriana na Roma negra. Sei de suas agruras no Partido dos Trabalhadores e sei também que outros companheir@s foram injustiçad@s e até perseguid@s por dirigentes partidários de esquerda inclusive no meu partido, o PC do B. Acho apenas que o caminho prá enfrentar e superar esses fatos ainda é a luta política interna mesmo que desgastante porém necessária e não a deserção pura e simples (não estou dizendo que foi este o seu caso até por que desconheço os detalhes de seu imbróglio com a direção petista). Prá encurtar a conversa, não neguei e não nego equívocos da esquerda – que você nega existir na prática do PT e PC do B – . Reafirmo apenas: o DNA da corrupção entre nós pertence aos colonizadores e seus ancestrais que certamente não estão do lado dos movimentos sociais, me fiz entender? Em um dos debates entre os prefeituráveis no primeiro turno ACM Neto fez questão de deixar bem claro a ojeriza de seus partido em relação aos sindicatos……… não patronais mas dos trabalhadores.
Quanto ao atual presidente do STF, o tempo dirá acerca de suas posições políticas, legítimas por sinal como a de qualquer cidadão ou cidadã brasileiros. Espero que eu esteja redondamente enganado. Afinal, como ele mesmo reconhece em entrevista recente, as classes dominantes brasileiras são racistas e excludentes não necessariamente nesta ordem.
Sobre Orlando Silva, esta mesma justiça que você incensa no caso do “mensalão”, o inocentou das acusações criminosas do PIG (se você acha que tal instituição não existe é questão de ponto de vista) que tentou destruir a carreira de um jovem político talentoso, nordestino, progressista e que da mesma forma que você nasceu e se criou em uma invasão periférica soteropolitana e progrediu com seus méritos tornando-se o primeiro presidente negro da UNE e o melhor ministro de esportes que este país já viu. Se você e o povo brasileiro irão assistir à Copa do Mundo em 2014 e aos Jogos Olímpicos na Bahia e no Brasil agradeça à Lula e à Orlando, grande articulador político para que isto se viabilizasse. Viva a democracia, uma bandeira eterna da esquerda. Axé.
Estrela, com todo o respeito, mas a gente não pode resumir o resultado do julgamento do mensalão a Joaquim Barbosa, ele deu o parecer dele e os/as outros/as ministros/as podem ser contrários. Como um deles já fez. com o Dirceu. Agora, vamos esperar o julgamento e se a maioria for a favor do relator, sinto muito companheiro, o PT e seus aliados tem que assumir ou então mostrar provas concretas de que o julgamento foi uma farsa, ou ainda, ir as ruas bradar (mas acho que não existe mais militância)….
Luciene Assunção
O julgamento do mensalão não é uma farsa 1
O julgamento do mensalão não é uma farsa 2 : http://mariafro.com/2012/10/13/claudio-goncalves-couto-nao-aceito-essa-tentativa-maniqueista-de-tornar-o-pt-algo-equivalente-a-um-cancer-da-politica-nacional-e-da-republica/
Luciene, desculpe-me também, mas afirmar que não existe mais militância ou trata-se de capitulação ideológica ou concordãncia com a tese de Francis Fukuiama (um dos ideólogo preferidos dos conservadores e apologistas do imperialismo estadunidense recentemente falecido), de que a história chegou ao fim. A única coisa que chegou ao fim companheira foi a Avenida Brasil se bem que a Globo a essa altura devido ao sucesso desta já deve estar preparando o remake. O tempo mostrará o que e quem está por trás deste julgamento, aí então, veremos quem de fato está do lado da democracia, do estado de direito e da moralidade publica. Axé.
Vejamos em quem o nosso guru vota, na hora H. Além do mais, se dependesse de DEM, PSDB e outras coisitas mais Joaquim Barbosa jamais seria convidado para passar na porta do STF que dirá se tornar um de seus ministros e agora presidente. O homem sabe quem é quem na hora de governar com democracia e sem racismo… http://www1.folha.uol.com.br/poder/1165270-relator-do-mensalao-afirma-que-votou-em-lula-e-dilma.shtml
Confiram o depoimento de mais um brasileiro de destaque sobre JB e suas virtudes : http://revistaforum.com.br/quilombo/
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