Leão ouve Wagner

Leão ouve Wagner, o mentor da chapa que o elegeu vice

DAQUI DE PORTUGAL, depois de rápida passagem por Salvador para compromissos sérios, leio a notícia. João Leão (PP), sergipano que graças ao atual ministro de Defesa Jacques Wagner (PT) os eleitores baianos elegeram vice-governador da Bahia junto com Rui Costa (PT), que tomou posse faz dois meses afirma: está “cagando e andando”.

Sim, o governador em potencial da Bahia divulgou nota (clique para ler) nesses termos: “cagando e andando” para as investigações autorizadas pelo Supremo Tribunal Federal que o implicam como um das cinco dezenas de políticos profissionais que teriam se beneficiado do esquema de corrupção detectado na maior empresa pública brasileira, esquema que o PT aprofundou.

Amigões sorridentes: Rui, Lula, Wagner e Leão, de ponga

Amigões sorridentes: Rui, Lula, Wagner e Leão (de ponga)

A chegada do Partido dos Trabalhadores ao poder desde 2002, também na Bahia (2006), tem contribuído bastante para a corrosão de princípios republicanos. Que são frutos de conquistas não lineares da longa, dolorosa e atribulada marcha daquilo que se constitui em normas distintivas de sociedades que almejam a civilização.

Civilização no sentido da separação dos poderes. De obediência às regras institucionais. De respeito aos direitos da pessoa – qualquer pessoa, indistintamente. No sentido de que o governante deve permanentemente prestar contas aos governados e manter máxima liturgia pelo cargo.

O ministro do STF, Teori Zavascki, que autorizou as investigações

O ministro do STF, Teori Zavascki, que autorizou as investigações

A Bahia deve a Jacques Wagner, adotado pelos baianos, não somente João Leão. Por ora, mais três suspeitos do esquema (denominado de Operação Lava-Jato) orbitam nos últimos anos a estrela petista no Estado. São eles (clique nos links para saber mais):

  • Mário Negromonte (PP), que chegou a ministro de Dilma e, afastado por escândalos, Wagner, em fina gozação para com nós outros, fez titular vitalício do Tribunal de Contas dos Municípios, salários e vantagens mais que de deputado, pagos sabe por quem;
  • Roberto Britto (PP), deputado federal que compõe e recompõe também com outro neoalidado petista da Bahia, César Borges (ex-ministro de Dilma, ex-governador contemplado com a lei de aposentadoria de Wagner); e
  • Luiz Argôlo, ex-deputado (PP/Solidariedade), amigão do “doleiro” preso que negociou com a Justiça o acordo de delação premiada que tem revelado todo o esquema.
João Leão e Mário Negromonte, caciques do PP (Partido Progressista), com maior número de investigados, juram inocência

O vice-governador e Mário Negromonte, caciques do PP (Partido Progressista), com maior número de investigados, juram inocência

Todos os suspeitos são apenas suspeitos. E se dizem “surpresos” pelo chefe do Ministério Público Federal ter acatado provas colhidas pela Polícia Federal e pela Justiça que os implicam no desvio de bilhões de dólares para os seus bolsos e campanhas eleitorais.

Dizem que vão provar sua inocência, como fez Herodes. Até lá – e isso pode demorar – como fica o governo da Bahia, se por alguma razão Rui Costa tiver se de licenciar do cargo?

Assume como governador um suspeito de cometer graves crimes contra o patrimônio público? Contra a empresa que até antes do PT assumir era tida como “o maior orgulho nacional”?

Foi este mesmo Rui Costa quem, falando sobre a execução de 12 jovens por sua polícia às vésperas do Carnaval, disse que quem opta por uma vida de crimes merece ser exterminado, sem processo sem nada.

Vai agora tolerar como inocente, João Leão, assinando documentos do governo baiano? A seu lado em eventos e atos, ou como seu representante eventual? Ou vai recomendar ao menos que se licencie da função de vice para que possa assim se defender melhor?

Pela cara-de-pau com que os governistas distorcem os fatos, sei que é querer muito de Rui, de Wagner e ainda do sujeito que caga e anda para o STF.

“POVO” TÁ NEM AÍ…

Outro ponto. Discordo frontalmente dos que se aproveitam do mau momento e afirmam estar “o povo” contra o governo que acabou de eleger e reeleger. Domingo que vem tem ato nacional pelo “impeachment” da presidente Dilma (PT).

Cartoon de Millôr

Cartoon de Millôr ou nele inspirado

O ato é positivo. O impeachment improvável. Ainda porque, se houvesse, o vice Michel Temer (PMDB) é que a substituiria. Vade retro!

Esse “povo” abstrato, em nome do qual a oposição opõe ao governo, não está nem aí, por enquanto, com o descalabro econômico, volta da inflação, má educação. Sobre a corrupção que corrói a Petrobras, muito menos.

Aninha Franco, intelectual de respeito, diz ser o tal “povo” ocupante dos “puxadinhos” do “Sindicato” que estaria com as chaves dos palácios governamentais. Que o povo estaria revoltado com os desmandos, roubalheiras etc.e tal. (Clique para ler).

Será? O resultado das urnas de outubro, principalmente em Estados como a Bahia (avassaladora derrota da oposição já no primeiro turno) prova o contrário.

Brutalizado em seu cotidiano e “paparicado” como consumidor de lixo cultural (telenovelas, Ivetes Sangalos, BaVis, letras de ritmos “quebradeiras”, Big Brothers), Rui Costa tem em mãos sondagens de opinião nas quais o chamado “povo” apoia sua fala desastrada e a sua polícia violenta contra gente daquele mesmo povo.

De Millôr

De Millôr

O “povo” da cabeça de Aninha, o mesmo que adotou Lula (PT) como herói, é pragmático – um eufemismo utilizado no lugar de oportunista. Tolera desmandos e roubalheiras, desde que alguma migalha lhe sobre – uma bolsa isso ou aquilo, por exemplo.

Quando também ele mesmo, o “povo”, não seja autor de roubos e abusos em menor escala. Elege Costas e Leões pelo país afora por se identificar com Negromontes, Sarneys e Malufs. Questão de identidade, que o marketing político sabe tão bem usar.

E não me venham falar no “fenômeno” deste Carnaval baiano, Igor Kannário. Esse filme eu já vi. É para rir? Como é mesmo aquela vinheta de um programa popularesco da TV Record local? Num crééio…

O flerte acrítico com o populismo abjeto, seja pelos governistas, seja por seus opositores, resulta sempre em tragédias. Que Rui Costa e sua gente entendem como partidas de futebol, em que o artilheiro (seus policiais da Rondesp) tem de fazer gol (isto é, matar) e blablablablá.

Ainda Millôr

Ainda Millôr