Fonte: Ministério da Saúde (16/04/2020)

O palanque diário, com cobertura de toda a grande mídia desde a primeira semana de março, deve ter influenciado a postura confrontativa do agora ex-Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, em relação a quem o nomeou e agora o demite, presidente da República Jair Bolsonaro.

Registre-se: gira em torno de 55% até agora a taxa de pessoas recuperadas depois de contaminadas no Brasil. Um índice nada desprezível.

No 16 de abril da demissão de Mandetta, a letalidade da Covid-19 estava em 6,3%, com 1.924 mortos dos então 30.425 casos confirmados até o final da tarde, informava oficialmente o Ministério da Saúde. Isso significava 32 mortes por 1 milhão de habitantes.

Por volta das 10h da manhã de 17 de abril o World-o-meters, banco de dados em tempo real, mostrava 30.891 casos (mais 208 novos em 24 horas) e 1.952 mortos.

Os dados estão mascarados por conta do baixíssimo número de testes aplicados até agora: apenas 296 de pessoas entre 1 milhão.

Na Alemanha estavam testados 20.629, nos Estados Unidos 10.263 (quase o mesmo na Coreia do Sul), na Itália e na Espanha mais de 19.400, Israel superava 23.000, similar à Suíça, e Portugal mais de 20.000 pessoas testadas por 1 milhão.

Fonte: Ministério da Saúde (16/04/2020)

Desde a confirmação da presença do vírus no Brasil ficou explicitada a divergência entre o chefe e o subalterno.

Divergência explorada à exaustão, a cada minuto, por setores midiáticos de linha editorial antibolsonarista, como o complexo Rede Globo de TVs abertas e fechadas, e jornais como Folha de S. Paulo.

Esses setores ungiram Mandetta à posição de herói nacional. Ele gostou do novo papel.

Cavou, assim, sua exoneração do cargo.

Isto ficou evidenciado no domingo anterior à demissão ocorrida na quinta-feira seguinte à exclusiva e incensada entrevista concedida pelo ministro ao programa “Fantástico”, da referida Rede Globo.

Teve ego e vaidade embalados pela oposição bolsonarista. Que, à falta de gente sua (grande parte às voltas com a Polícia Federal), desde a derrota de outubro de 2018 anda desesperada à busca de um ídolo qualquer ao qual se agarrar.

Aí está o que derrubou Mandetta.

Ex-ministro Luiz Henrique Mandetta

De repente um ministro da cota do DEM, partido de centro-direita, tornou-se referência de bom mocismo, em contraste com o “brucutu” que o nomeou para a função.

Político profissional, ex-deputado federal recomendado ao posto pelo aliado bolsonarista de primeira hora, Ronaldo Caiado, governador de Goiás, Mandetta agiu calculadamente.

Não à-toa sua entrevista ao “Fantástico” foi concedida desde a sede do governo goiano, com elogios rasgados à Globo.

Os holofotes estimularam Mandetta a posicionar-se em termos de que ou a sociedade obedece ao ministro ou obedece ao presidente da República.

Evidente quebra de hierarquia e falta de humildade.

Qual chefe de Estado, ontem ou hoje, aqui ou alhures, já permitiu um subalterno falar mais grosso do que quem assinou sua nomeação?

Nada esteve improvisado. O governador Caiado (DEM), declarara rompimento com Bolsonaro depois do desastroso pronunciamento deste, a 25 de março, repudiando “a histeria” em relação a “uma gripezinha” como esse vírus.

Os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, ambos do mesmo partido de Mandetta, evidentemente colocam combustível no confronto.

O DEM, nacionalmente presidido pelo prefeito de Salvador, ACM Neto, quer construir uma alternativa de poder para 2022. Ou negociar maior espaço.

É fato: Bolsonaro alinha-se com os chefes de Estado mundo afora, a exemplo de Donald Trump dos Estados Unidos da América, que negam recomendações de isolamento social radical da W.H.O. (OMS – Organização Mundial da Saúde) como método de minimizar efeitos devastadores, em termos de letalidade, pela pandemia da Covid-19.

Nelson Teich, novo ministro

Com o primeiro caso a 8 de dezembro de 2019 admitido pela China, a 17 de abril este novo coronavírus havia matado em torno de 148.000 pessoas em todo o mundo, tendo infectado mais de 2 milhões e 198 mil, de acordo com o World-o-meters.

O oncologista Nelson Teich, que assume o Ministério da Saúde neste 17 de abril, tem referencial e já assessora Bolsonaro desde a campanha que o elegeu presidente.

Em seu primeiro pronunciamento como novo ministro da Saúde, ao lado do chefe, Teich falou que há incertezas no cenário e confusão de números.

Verdade: o Ministério da Saúde precisa ser mais assertivo no que informa, mais transparente.

Nenhum país, nenhuma sociedade, nenhum indivíduo pode ser condenado a uma quarentena eterna.

Não é aceitável a 8ª economia do mundo não delinear uma estratégia científica de retorno, mesmo que paulatino, à normalidade social.

Para isso, ele mesmo admite, há de tentar massificar a testagem. O aumento exponencial de casos positivos, isolamento e mortes dar-se-á, então.

Até que, como já estão fazendo outros países, as coisas recomecem – tomando-se os cuidados necessários de proteção à vida das pessoas.