NADA FÁCIL será para Marina Silva, candidata do partido Rede, coligado ao Verde, se posicionar nacionalmente junto ao confundido eleitorado brasileiro de agora. E, apesar dos pesares, ganhar a Presidência da República nas eleições deste outubro de 2018.

Marina Silva, da Rede, concorre ao lado do vice Eduardo Jorge (PV)

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Para obter a maioria dos votos Marina Silva terá de ser convincente, principalmente à parcela de em torno de 60% de eleitores que diz vai se abster: votará branco, nulo ou permanece indefinida.

Tem os próximos quarenta dias, já que a 7 de outubro, data do primeiro turno, os brasileiros vão às urnas.

Marina vencerá se eficiente em discurso, em postura, em imagem publicamente agradável ao eleitor que rejeita fortemente os principais adversários dela.

Ideologicamente se situa no campo centro-esquerda. Sua tarefa primeira será sobressair-se ao candidato Ciro Gomes (PDT), também situado nesse diapasão, deixando-o para trás.

Ciro, que pela segunda vez concorre ao cargo, tem mil arestas políticas. Outros adversários podem explorar o horror que são seu estilo neocoronelístico, sua instabilidade emocional, suas declarações racistas e machistas sobre negros e mulheres.

Contudo a campanha de Marina terá de superar pruridos morais que marcam a trajetória da candidata.

E partir logo para o ataque, de acordo com a leitura dos cenários do momento, se não quiser sofrer as consequências da pureza ética que a tem vitimado como nas duas disputas anteriores.

Marina acompanha o julgamento do assassinato de Chico Mendes na Amazônia em 1988 a mando de grileiros de terras

MARINA SILVA é a melhor candidata para o Brasil de hoje, mergulhado em sucessivas ondas de descrédito e desalento pelas espúrias condutas políticas que trouxeram e mantiveram o PT no poder por treze anos desde 2002.

O governo supostamente “golpista” do partido MDB, à frente do Estado desde 2016, é fruto daquela estratégia petista.

Fracassada, porquanto setores atuantes de outras instituições da República – no Judiciário, na Procuradoria, na imprensa, na Polícia Federal -, agiram a tempo. Impedindo o país de emular o que se vê na Venezuela ou na Nicarágua, sociedades praticamente mergulhadas em guerra civil por conta de projetos de poder supostamente “de esquerda socialista”.

Espera-se que Marina tenha aprendido com as duas derrotas passadas.

A ela sucessivamente o eleitorado confiou em torno de 20% dos votos, deixando-a soberbamente em terceiro lugar no cômputo final, mesmo sem máquina empresário-partidária por trás.

É capital político nada desprezível. Para provar ser competitiva deve não apenas mantê-lo. Ampliá-lo desde já é imperativo categórico de campanha.

Por seu potencial, sabe que é vidraça para os adversários, que a tem ou como não confiável ou “frágil” (sic!).

Não confiável ao chamado mercado financeiro, este bem representado pelo perigoso Henrique Meirelles, do MDB-Bank of Boston.

Como senadora da República

Não confiável ao esquema do chamado “Centrão”, a coligação ampla de partidos do centro-direita que pulou dos braços petistas e de Ciro para apoiar Geraldo Alckmin, do PSDB, com suas ramificações empresariais que coloca todos seus líderes no banco dos réus da Operação Lava Jato, que querem extirpar se vitoriosos em outubro.

Não confiável à chamada “esquerda” apeada do poder em 2016, parte dela acadêmica e artística, que gravita em torno do astro-rei PT.

Sua fragilidade decorreria de ser mulher, amazônica, e de aparentar debilidades de saúde.

SÃO OS “ESQUERDOPATAS” saudosistas dos treze anos nos quais embalaram seus devaneios.

De legado, se implantaram algumas coisas positivas essas logo foram tragadas. Taxas reais de desemprego batem os 25% da força de trabalho, as maiores taxas de homicídios mundiais, desempenho econômico recessivo é o que o pais herdou.

Entre seus iguais na América do Sul, o Brasil registrou entre 2013 e 2015 taxas negativas de não crescimento do PIB, matando o sonho de milhões de jovens que não conseguem ingressar no mercado de trabalho. Milhares de empresas fecharam as portas, desenvolvimento parou, o investimento em saúde, educação, segurança foi congelado.

As primeiras três semanas de campanha, isto é, até por volta do próximo 15 de setembro, Marina Silva haverá de enfrentar com firmeza as principais forças acima elencadas.

Espera-se não caia em provocações falaciosas, que também partirão do candidato da extrema-direita, Jair Bolsonaro (PSL).

Este, com sua militaresca truculência neandertálica, é ameaça real, diante dos índices de aprovação de suas ideias (20%), ao Estado Democrático de Direito que a sociedade conquistou nos termos da Constituição de 1988.

Aquelas “esquerdas”, oportunistas, a condenam por Marina ser (1) evangélica e contra o aborto; (2) ter votado no psdebista Aécio Neves contra a petista Dilma Rousseff na disputa presidencial de 2014; (3) ter rompido com o PT, que no passado ajudou a construir; (4) ter o ambientalismo, principalmente a Amazônia, como ideia fixa.

Ao lado de Chico Mendes e Francisco Gregório, reproduzida de blog (clique para saber)

A candidata terá tempo, nos debates públicos e demais atividades de campanha, de desonerar-se, com argumentos plausíveis a quem queira ouvir, dessas questões. Que são menores, se comparadas ao problema do balanço de pagamentos, da taxa de juros e da dívida pública, da reforma do Estado.

O centrão e a direita buscam desacreditar Marina Silva por sua aparente “fragilidade” feminina, o que, de acordo com tal interpretação tosca, faria com que não tivesse culhões para enfrentar os profundos dilemas nacionais.

Os machos que comandaram o país, incluindo Dilma Rousseff, vendida dessa forma pelo petismo, também não tiveram testosterona suficiente para domar os abutres – políticos e financeiros, locais, regionais ou globais – que há décadas e séculos saqueiam a possibilidade de uma emancipação da sociedade brasileira.

Tudo o que, no atual quadro civilizatório nacional seria benefício a seu favor, no estágio atual da disputa de poder no Brasil parece ser condenável em Marina.

Marina Silva, mulher e negra somente alfabetizada aos 16 anos de idade, vindo lá dos seringais da floresta amazônica, figura de proa internacional do combate ecológico, simboliza as conquistas civilizatórias da humanidade.

Ex-senadora, ex-deputada, ex-ministra, poderia já se recolher aos seus afazeres domésticos, como gostariam esses que lhe impõem restrições no fundo preconceituosas.

Por Marina ser mulher (feministas encabrestradas dirão que nem tanto), negra (movimento tutelado exigirá comprovante ideológico), educada, serena (raposas do marketing político se contorcerão de rir), não teria chance no vale-tudo do ringue eleitoral deste 2018.