
Na edição digital de domingo de The New York Times deparo com um ensaio by Scott Ellsworth, “The Politics of a Hard Day’s Work for Lobstermen in a Changing Climate”, A política de um dia duro de trabalho para os pescadores de lagosta num clima em mudança.
Ellsworth, que é historiador, relata suas impressões sobre as pessoas nativas do vilarejo Stonington, que ele descreve como “prettiest”, um dos mais bonitos lugares da costa central atlântica do Maine.
“Esta parte do Maine é representada por um Democrata no Congresso“, escreve o ensaísta, “mas o distrito, o segundo do Maine, votou em Donald Trump duas vezes por margens decentes; este é um daqueles lugares onde cada voto pode importar. Aqui, as árduas demandas da vida cotidiana, o quão duro é o trabalho diário, o quão importantes são os custos e os preços, fazem com que a natureza crucial deste momento pareça muito distante da política.”
Maine está entre as primeiras das 13 colônias anglo-saxônicas que deram origem aos Estados Unidos da América.
Do seu mar os pescadores trazem há séculos as mais apreciadas e melhores lagostas distribuídas no país e no exterior, em grandes quantidades. Florestas intactas e a natureza bruta, estão presentes.
Posso opinar sobre isso. Junto com Uidá, meu primogênito à época com 10 anos de idade, estive no Maine a convite de um casal que estudava e trabalhava na Brown University.
Ele, já conhecia de troca de ideias por ser orientando de doutorado do brazilianista Thomas Skidmore. Ela, funcionária “fund raiser” da Brown. Residiam em Providence, Rhode Island, onde funciona a sede da famosa universidade.
Eu havia chegado há dez meses para meu doutorado na USP, como visiting scholar da New York University, onde fixei residência.

Uidá, morando com a mãe na Suíça, foi despachado para me visitar do aeroporto de Zürich, por ela e por Mathias Laüber, professor e músico suíço, pessoa maravilhosa. Sabendo da visita de meu filho, o casal de Providence fez o convite para desfrutarmos a última semana de acesso ao litoral de Portland no Maine.
Explicou: a partir de setembro, devido os outono e inverno rigorosos da região, o acesso é interditado. Tinham de empacotar e arrumar as coisas da residência, para somente retornarem na primavera seguinte, em março.
De Nova York, eu e meu filho pegamos de manhãzinha um ônibus até Providence. O casal nos esperava para seguirmos viagem à sua localidade em Portland. De carro, por três horas cruzamos a linda paisagem do estado de New Hampshire até chegar, com o ar tomado pelos perfumes da densa flora do Maine, ao estado mais latitudinal nordeste dos Estados Unidos, fronteira com o Canadá.
O casal tinha um bangalô, linda casa de madeira antiga, como é a maioria das casas da costa do Maine. Dava para uma nesga privativa das águas quase congeladas que descem do polo norte – nas quais nos banhamos o longo fim de semana que ali quedamos.
Visitamos todo o vilarejo. Na ocasião notamos ser as únicas pessoas negras à vista. Na zona comercial, compramos iscas e anzóis. Uidá teve mais sorte que o pai. Em quase duas horas de pescaria sobre uma ponte, nada pesquei, ele sim: quatro ou cinco peixes, que chegando em casa fritei.
Na zona de restaurantes, amplos galpões abertos próximos à orla, de onde se aprecia as embarcações de pescadores e de turistas indo e vindo. O casal nos levou para apreciarmos uma das tantas espécies de lagosta.
Ainda vivas em toneis, são jogadas em água fervente à escolha do freguês. Minutos depois, os garçons trazem à mesa, acompanhadas de grandes espigas de milho cozido e tachos de manteiga com sabor local, com a qual pincelamos o alimento selvagem.
Contudo, o artigo do NYT adverte que alterações climáticas das últimas décadas estariam ameaçando a indústria da lagosta. “Uma série de pressões recentes tem se acumulado e pode acabar com um modo de vida que, para alguns, remonta a gerações“.
“Na verdade, no que diz respeito às mudanças climáticas, a comunidade pesqueira de lagosta do Maine pode muito bem ser America´s own canary in the coal mine“. A expressão, traduzida por “o canário na mina de carvão da América”, significa algo que alerta para uma tragédia em andamento.
Embora Ellsworth sublinha ser difícil misturar as preocupações do dia-a-dia da população pesqueira do Maine com a disputa eleitoral de novembro entre Donald Trump e Kamala Haris, as mudanças climáticas que afetam a indústria da pesca da lagosta e as respostas que um projeto político ou outro têm para o problema preocupam o eleitorado.
- DIABO DA TASMÂNIA
Essas preocupações não dizem respeito apenas aos pescadores do Maine. Estão por toda a parte.

Recortar aqui o Maine é apenas pela lembrança afetiva de bons momentos ao lado do casal de amigos norte-americanos e do meu primeiro filhote, de mãe Maria do Amparo, ex-ativista do MNU (Movimento Negro Unificado).
Viaja frequentemente, por lazer ou por obrigações profissionais, por mil e um lugares da Europa continental e insular. Já esteve pela Ásia, em Oceania – até mesmo na Tasmânia, onde fotografou o diabo de lá.
Nesse momento, às vésperas de seu aniversário, faz as malas para uma temporada de meses em Singapura. Acompanha o amor atual, que está ali se estabelecendo em temporada de estudos. Seguem meses depois ao Japão, onde ela nasceu. Ele aí já esteve, razão porque aprendeu japonês.
Cresceu e por razões diversas, não por preconceito ou por falta de oportunidades, até hoje, na casa dos 30, não mais regressou aos Estados Unidos.