SINAL DOS NOVOS TEMPOS. Não apenas a prisão do ex-presidente da República Lula da Silva (PT) – o último dos caudilhos populistas do Brasil, queira deus!

Em foto de site oficial, o oligarca ACM em festejo religioso na chamada Lavagem do Bonfim

A chamada Operação Lava Jato comandada, de Curitiba, pelo juiz federal Sérgio Moro, tem provocado desarranjos devastadores.

Pretensões eleitorais de clãs e famílias historicamente consolidadas nas esferas de poder político-partidário têm sido revistas. De norte a sul, leste a oeste do país. Em São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Amazonas… toda parte.

Aqui mesmo na tradicionalíssima Bahia, desdobramentos da Lava Jato levaram a algo surpreendente:

O recuo estratégico do carlismo em retomar o poder político do Estado nas eleições de outubro deste 2018.

Carlismo é um conceito e uma prática política encarnados por Antônio Carlos Peixoto de Magalhães (1927-2007), o mais astucioso animal político da Bahia por mais de quatro décadas desde o golpe civil-militar de 1964.

A lacônica desistência do neto do patriarca, herdeiro natural dos escolhos políticos do todo-poderoso avô, em disputar as eleições como principal líder de oposição ao  governador Rui Costa, do mesmo PT do presidiário Lula, obedeceu a uma aritmética judiciosa preventiva.

Reprodução do site “JGB”, quando Neto anuncia recuo da candidatura a governador da Bahia: clique e leia a reportagem

Desde quando ACM Neto desistiu, em 2012, de um brilhante mandato de deputado federal em Brasília, concorrendo contra as forças petistas coligadas ao comando da capital da Bahia, para todo o universo político seus passos estavam definidos.

ACM Neto venceu com larga margem os candidatos apoiados pelo governador Jacques Wagner, correia de transmissão do lulismo no Estado.

Operou em várias frentes, arregaçou as mangas, foi para as ruas e fez articulações partidárias de todo o tipo – mantendo-se na mídia nacional.

Trabalhou pelo município, modificando-o no que lhe pareceu render maiores dividendos políticos. Assim tornou-se um dos mais bem avaliados prefeitos do Brasil. Por décadas, o melhor prefeito da capital baiana.

Tão bem quisto, mais de 70% dos eleitores deram novamente a ACM Neto incontestável vitória à Prefeitura de Salvador em 2016.

Pareceu a todos, desde então, disputar a Governadoria seria decorrência natural de sua popularidade no maior colégio eleitoral baiano.

Não fosse pelo sangue do avô que corre em suas veias, o desgaste nacional do PT, que está à frente do governo da Bahia por já 12 anos seguidos, deveria tonificar a sua campanha oposicionista.

ACM Neto alimentou o quanto pôde sua pré-candidatura, até a undécima hora do prazo normatizado pelas regras da legislação eleitoral, 7 de abril passado – coincidentemente data da prisão de Lula.

Deveria renunciar ao cargo de prefeito, cujo mandato se encerra em 2020, e se lançar na disputa a governador. Tendo por único adversário o próprio Rui Costa, que disputa a reeleição.

Na hora “h”, o neto do coronel ACM tremeu. Deu, como se diz, caruara. Se borrou nas calças.

Ao público mandou dizer o seguinte: por ainda ser jovem e por ter “ouvido seu coração”, desistia do mais cobiçado objeto de desejo de qualquer profissional representante de oligarquias politicas regionais: o poder do Estado.

É uma desculpa esfarrapada, para tanto esforço e investimento feito em sua imagem.

Bons tempos para todos antes da Lava Jato: Geddel (MDB), ACM Neto (DEM) e Aécio Neves (PSDB), hoje também réu, compartilham o mesmo palanque em 2014

Seu pai, por exemplo, comandante-em-chefe da capilar organização denominada Rede Bahia – de emissoras de TV, rádio, jornais e outros badulaques -, auscultando seus pares em convescotes e clubes privados, pode ter exercido mais influência em sua decisão que Emílio Odebrecht quanto ao filho Marcelo. Presos ambos na Operação Lava Jato [clique e saiba].

Aliás, são as planilhas da empreiteira Odebrecht que contém o nome de ACM Neto e de dezenas de outros próceres da política baiana, com ou sem mandato. Incluindo o próprio Rui Costa e demais caciques aliados ou oposicionistas a si.

O prefeito de Salvador, contudo, teve as duas pernas amputadas com a prisão em setembro 2017 de Geddel Vieira Lima.

Os votos da capital por si não elegem um governador de Estado. Com o fim do banditismo geddeliano, faltou-lhe palanque em redutos de mais de 400 municípios do interior.

Caixas e malas com 51 milhões em bunker de Geddel em Salvador

A juventude de ACM Neto despertou depois que malas e caixas contendo 51 milhões em dólares e reais foram apreendidas [clique e saiba] num apartamento em Salvador usado por este ex-ministro do presidente Lula e diretor da Caixa Econômica Federal na gestão Dilma Rousseff.

Maior nome do partido MDB, dono então inconteste de grande fatia do eleitorado e prefeitos do interior do Estado, o principal fiador da pretendida candidatura  de ACM Neto ao governo baiano foi apanhado por investigações correlatas à Lava Jato.

Dessa vez está diretamente implicado o atual presidente da República Michel Temer, do qual Geddel foi dos principais ministros e conselheiro até ano passado.

Há suspeitas quanto à origem e a destinação desses milhões em dinheiro vivo, guardados em malas por Geddel.

Este, ainda em cela num presídio em Brasília, trouxe junto à descoberta do dinheiro escondido o irmão, lugar-tenente Lúcio Vieira Lima, deputado federal, e a própria mãe de mais de 80 anos de idade.

O coração de ACM Neto deve ter razões que a própria razão desconhece.

Afinal, por esses dias agora o Supremo Tribunal Federal decide se torna os Vieira Lima réus por corrupção, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica.

Não se descarta que façam um acordo de colaboração premiada, visando benefícios que aliviem suas penas por crimes cometidos. Terão de contar tudo o que sabem e apresentar provas.

ACM Neto e os seus fizeram um cálculo quanto a redução de danos com o que está por ainda ser revelado na Lava Jato e demais investigações. Como resultante, a oposição a Rui Costa virou suco. Desmilingue. Evapora.

Péssimo para a democracia. Talvez um tédio para a arrogância do próprio governador, que não terá como ser posta à prova.

A não ser por fogo amigo.

Nos próximos dois anos Salvador terá um prefeito desmotivado politicamente. Um vácuo se lhe apresenta entre 2020 e 2022, quando estará sem mandato eleitoral. Que chato!

É o ocaso dessa força poderosa que foi o carlismo, marcante na história política regional e nacional até recentemente. Entre o vai ou racha, depois da Lava Jato o que sobra é o racha.