TIVE UM SONHO há pouco. Assim que pulei da cama vim ao computador compartilhar com vocês, antes que se dispersasse. O governador da Bahia estava ao meu lado numa sacada de casa em uma espécie de beco de favela, da qual podia-se com a mão pousar objetos no telhado vizinho.
Foi o último sonho da dormida. Porque logo fui despertado pelo resmungo seguido dos carinhos de Mel, como faz todas as manhãs, antes de ir para o infantário (como em Portugal se chama creche).

Em flagrante do fotógrafo Mauro Akin Nassor, o jornal Correio* ilustra com a imagem da manicure Claudijane Miranda matéria assinada pelo repórter Victor Lahiri sobre mais uma mãe que acaba de ver o corpo do filho caçula, seu terceiro a ser assassinado
O governador Jacques Wagner se fazia acompanhar por um séquito de bajuladores, entre os quais reconhecia pessoas do chamado Movimento Negro. Distinguia-se, ainda, alguém que seria, no meu sonho, o secretário da Segurança Pública do Estado, Maurício Barbosa.
Parecia ser um evento de loas, porque todos se compraziam em risos, mas eu me sentia incomodado. Foi quando o governador, ao meu lado, se dirigiu a mim de forma afável, cedendo-me a palavra.
Então eu perguntava a Wagner como ele conseguia dormir tranquilo sobre os cadáveres de quase 6.000 pessoas assassinadas por ano na Bahia, a metade dessas jovens e negras.
Criou-se um mal-estar. Inclusive entre os negros que o acompanhavam – nossos carrascos também merecem nossa devoção -, e o governador contestava meus números.
O secretário de segurança me respondia indignado, mas eu repunha a pergunta seguidamente, voltando-me para o governador, que parecia alheio ao problema, meio surpreso com o que eu lhe dizia. O secretário agora tentava se esconder de nossas vistas.
Wagner bebia algo, mas eu sabia que não era alcoólico. Ele e sua gente sabem que eu queria a sua derrota eleitoral. Não por desconhecer o que o seu governo fez. Mas por condenar o que não fez ou deixou de fazer nesses 8 anos de mando.
Para mim ele é a Lady Macbeth. Pode esfregá-las, mas nenhuma água ou detergente conseguirá limpar as suas mãos manchadas de sangue.
Rejeitando ainda o que eu dizia repousou o vasilhame sobre o telhado em nossa frente. Sugeri a ele: “Leve esse assunto para a esfera federal, agora que o senhor vai se tornar ministro”. Ele dava um salto para trás, afirmando que não, não iria para Brasília.
Foi quando Mel subiu em mim e balbuciou: “Papá?!”
Date: Fri, 14 Nov 2014 11:07:02 +0000 To: moreiraray@hotmail.com
Caro, aqui Luiz Maklouf,jornalista em São Paulo. Pode mandar um fone bom, para o email lmaklouf@uol.com.br
Obrigado e abraço
Excelente crônica.
Caro Fernando, suponho que o Correio* poderia publicar sua tocante crônica. O número de mortes nos indigna e assusta, e tais reações aumentam quando nos damos conta do envolvimento as Polícia em muitos dos episódios.