Os bairros da periferia da grande Salvador se banham de sangue. Sangue preto e, ou, pobre, nesta chamada Semana Santa católica.

É redundante dizer que é sangue humano? Mas seria sangue barato, por de preto e de pobre? O repórter Alexandre Lyrio faz aqui um relato dramático do assunto. Dom Murilo Krieger, arcebispo-primaz do Brasil, serviu de inocente útil nos recentes episódios que nos entristecem independentemente da fé.

Páscoa banhada em sangue

Páscoa banhada em sangue

Esse tema teria de ser prioritário na disputa política pelo governo da Bahia neste 2014. A oposição precisa explorá-lo em toda a sua extensão macabra, propondo uma política de segurança pública séria, negligenciada pelo governador Jacques Wagner nos recentes oito anos. É o que também pensa, sobre a democracia no Brasil, o colunista de assuntos jurídicos da Folha de S. Paulo (clique para ler).

A pretexto da greve das polícias comandada pelo governador do Estado, Jaques Wagner/Otto Alencar, entre as madrugadas de quarta-feira, 16 de abril, e de domingo de Páscoa, os números da carnificina passam as seis dezenas. Apenas os números tornados públicos. Sem contar os assassinatos ocorridos nas últimas horas pelo interior da Bahia adentro.

Quem é que vai pagar por isso? Pelo fato de a Bahia ter se transformado na casa da mãe-joana de funcionários públicos aos quais a Constituição delega, com exclusividade, o uso de armas de fogo? Mesma Constituição que lhes proíbe o direito de greve, automaticamente jogando na ilegalidade esse tipo de desrespeito à lei.

Um dos líderes dos grevistas, vereador da capital pelo PSDB e pré-candidato a deputado, foi preso na sexta a mando da Justiça Federal. Não pela presente greve, mas por acusações do Ministério Público relativas à greve de 2012. Terá assegurado todo o direito de defesa.

Se condenado, que pague a sua parcela de responsabilidade por essas e outras carnificinas advindas do abuso de policiais. Que têm recorrido ao expediente ilegal da greve para trazer pânico à sociedade e nos tornar reféns.

Tudo sob a complacência de um governo que se caracteriza pela incompetência em negociar com os líderes da categoria. Embora torre o dinheiro que pagamos em impostos em campanhas propagandísticas como a que veiculou nas últimas semanas. Em que pinta como cor de rosa a situação dos policiais e da segurança pública no Estado, na voz e imagem de uma ex-apresentadora da TV Bandeirantes.

Nesse momento de luto o povo honesto, trabalhador e simples da Bahia está abandonado por sua própria conta e risco. Não seria o caso de instituições como a Universidade, a Ordem dos Advogados do Brasil, o Sindicato dos Jornalistas ou sua Associação Bahiana de Imprensa, agirem no sentido de apurar o grau de culpabilidade do governador Jacques Wagner nessas carnificinas?

Não seria o caso de solicitar ao Congresso e à União, intervenção federal na Bahia? Sem mais metáforas, como prevê a Constituição da República. Em defesa da vida, dos baianos e até de cariocas que, como Jaques Wagner, aqui se estabeleceram.