Tags
Notícia no diário Folha de S. Paulo (23/06/2024):
“A greve dos professores nas universidades federais terminou após 69 dias. Em assembleia neste domingo (23), o Andes (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior) informou que a maioria de suas instituições filiadas optou por acabar com a paralisação. Foram 33 votos a favor do encerramento do movimento e 22 contrários. (…) Para os docentes, Brasília [leia-se o presidente Lula, pupilo do movimento] não iria ceder o reajuste pedido para este ano, e seguir sem aulas somente prejudicaria os estudantes. (…) Em assembleia à tarde, o Sinasefe (Sindicato Nacional dos Servidores Federais na Educação Básica, Profissional e Tecnológica) anunciou a decisão. A classe aceitou a proposta do governo de reajuste salarial somente a partir de 2025.”
Como pessoa interessada no tema – sou professor há 22 anos, full professor há 6, candidato a Reitor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) daqui a dois anos, como fui em 2022 -, deixe-me trazer algumas considerações.

Lula sabe falar grosso com seus comparsas. Fosse reitor eleito, ao contrário dos parmalates bunda-moles hoje naquela função na UFBA, o confrontaria.
Assim como iria haver-se com o contribuinte essa pequena burguesia branca que manipula os interesses acadêmicos em suposta “defesa da universidade pública e da democracia”. Tudo baratino. Papo pra enganar trouxas.
Estamos reféns desses parasitas, velhacos e velhacas que orbitam na academia, pouco devolvendo em troca à sociedade que nos banca. Se é greve, é greve e pronto!
É inútil debater honestamente com esses canalhas sobre oportunidade e validade. A gente volta às aulas quando vir o comando “de cima”. Mesmo que de mãos abanando, diremos que a greve foi “vitoriosa”. Completa inversão de valores e bom senso.
A universidade diz-se pública, mas privativa dos grupelhos que a manipulam, avessos a qualquer tipo de ingerência pública; democrática, desde que a democracia seja entendida por privilégio da classe (ou subclasse) que sequestrou o ambiente acadêmico no Brasil.
Destaque-se a medíocre cobertura jornalística da greve. Em prejuízo dos estudantes que agora, cinicamente, o Andes alega não querer prejudicar.
Já prejudicou, e muito! Os que tinham planos de formar-se no presente semestre que finda-se, os que tinham compromissos e planos de seguirem a vida com o diploma na mão desde agora, esses são milhares Brasil afora.
Desde sua deflagração, na UFBA ao menos o movimento grevista foi um teatro de calhordas. Andes (identificado a partidos mais “à esquerda”, embora alinhados a Lula) e Proifes (Federação docente mais alinhada a correntes majoritárias do PT), são saco da mesma farinha. O que lhes difere são as táticas usadas para ter a maioria dos militantes docentes.
A UNE/DCE, dessa vez, não aderiu. A estudantada perdeu um semestre inteiro, unicamente para gáudio do ego da milícia sindical. Por conta da irresponsabilidade dos líderes das facções político-partidárias que tutelam as universidades brasileiras. Alguém vai ressarcir a sociedade ou os estudantes pelo custo que a greve fracassada lhes causou?
Os jornalistas em exercício na mídia, outros bunda moles com aspirações também pequeno burguesas, tinham a obrigação de fazer essa pergunta à cosa nostra sindicalista. A imprensa em geral fingiu não ver o que acontecia, realizando um jornalismo ou omisso ou chapa branca.
Assim como indagar a quem interessou paralisar por quase três meses as universidades. Para, enfim, regressar de mãos abanando, já que nosso padim padi ciço, o nhonhô Lula, gozando com a cara de tais líderes de araque, deu foi um belo chute em seus fundilhos rotos.
Interessou a quem a greve das universidades, afinal bancada pelo dinheiro do contribuinte? Nenhum centavo foi descontado do salário e dos benefícios adicionais desses gigolôs de assembleias e passeatas esvaziadas. Fazer greve, dessa forma, sem pagar pelos dias parados, é mole.
Não seria isso possível nos ditos países “socialistas/comunistas”, projeto político que essa gente ultrapassada dita “de esquerda” fala defender da boca pra fora.
Vá fazer greve, de qualquer tipo, na China, em Cuba, na Venezuela, na Coreia do Norte. Mesmo em países nos quais o Estado Democrático de Direito (o limite do seu direito é o meu direito) minimamente funciona, a greve é regrada por princípios racionais e lógicos.

Na Europa moderna os trabalhadores fazem greve, mas é o sindicato que assume os custos pelos dias parados. Porque, legalmente, a greve resulta na suspensão temporária do contrato de trabalho. Nada mais justo o corte do pagamento pelos dias de paralisação.
Aqui, servidor público em greve é servidor público em gozo de férias. Alguns aproveitam para ou ir à praia, ou à casa de veraneio, ou à fazenda, ou à curtição no exterior.
Nos Estados Unidos a regra é clara: não há sindicato nacional de trabalhadores universitários. A maioria das universidades sequer tem sindicato. Porque também não há a garantia de “estabilidade” funcional.
A negociação do contrato é feita por cada docente diretamente com a administração, a cada ano. Leva-se em consideração desempenho do professor, sua produção, avaliação feita pelos estudantes.
- SINECURA
No Brasil da plutocracia, que se confunde com o Brasil da cleptocracia, professores e técnico-administrativos (TAE) valem-se do corporativismo de seus sindicatos, federações e confederações. Estruturas milionárias que, no fundo, são correias de transmissão de facções com projetos de poder político-partidários.
A sociedade, os estudantes e parte considerável dos professores autônomos são sequestrados por essas estruturas, azeitadas pelo que arrecadam em dinheiro dos filiados a elas e pelos recursos da “contribuição”, taxas e impostos sindicais.
Em fevereiro o presidente Lula e seu núcleo de gestão econômico-admimnistrativa anunciou não ter condições de reajustar o salário dos trabalhadores em educação. Além de determinar corte de R$ 311 milhões no orçamento universitário, em relação a 2023.
Com greve em andamento, em junho, com a maior cara de pau, perante sua plateia de reitores submissos chamados a Brasília para o ouvir, Lula reafirmou zero de reajuste, mas um propagandístico PAC (Programa de Aceleração de Crescimento) prevendo investimento de R$ 5,5 bilhões para o ensino superior até o final de seu mandato em 2026. Inclusive para construção de várias novas universidades, enquanto as existentes estão passando o pires.
A cobertura jornalística passou a largo desses fatos. Poderia suspeitar ser a greve uma estratégia dos apoiadores do lulopetismo para, com os dias parados, tirar as universidades do sufoco. Quanto se economizou em despesas correntes, água, luz, esgoto, limpeza, alimentação nos restaurantes universitários etc? O dinheiro economizado vai ou foi para onde?
Toda gente sabe ser a greve um direito constitucional (Art. 9º), pacificamente consolidado no Brasil, regulamentado pela lei 7.783/1989. O abuso desse direito constitucional é passível de punição, como previsto nos Arts. 14º e 15ª da referida lei.
Contudo, por cumplicidade e covardia, vez que devedores das facções que os apoiam, os reitores agora fingirão que nada aconteceu. As aulas retornarão de boa. Os proselitismos idem.
Leia A Sinecura Acadêmica – a ética universitária em questão, livro do proscrito Edmundo Campos Coelho (1939-2001), e depois venha discutir. O resto, papo furado, que se dane!